Em tempos de Copa do mundo as atenções ficam voltadas para a seleção de futebol, mas saibam que o vinho brasileiro e principalmente nossos espumantes nos enche muito mais de alegria e orgulho! Eu, como torço mais para nossos vinhos do que para a seleção canarinho, estou sempre comemorando as novas conquistas! Assim, neste final de novembro, marcamos mais um golaço com a criação da DO Altos de Pinto Bandeira (RS). Foi publicado na Revista da Propriedade Industrial (RPI) nº 2.708, de 29 de novembro de 2022, o reconhecimento da Denominação de Origem (DO) Altos de Pinto Bandeira para o espumante natural da região.

Assim, o Brasil acaba de receber sua segunda Denominação de Origem (DO) para vinhos, a DO Altos de Pinto Bandeira que é a única no novo mundo exclusiva para espumantes, já que a DO Vale dos Vinhedos, nossa primeira, também engloba vinhos tranquilos tintos e brancos.

Tá certo, que legal! Muito maneiro! Que bacana! Mas o que significa isso mesmo? O que é IG?  IP? Há outras no Brasil? Quais? Onde?

PULE ESTA PARTE, se você leu recentemente os posts: da IP Campanha Gaúcha (2020) ou da IP Vinhos de Altitude e Santa Catarina (2021) ou da IP Vale do São Francisco (nov/2022).

MAS, se quiser relembrar resumidamente, no caso de vinhos no Brasil temos:

• As Indicações Geográficas (IG) identificam vinhos originários de uma área geográfica delimitada quando determinada qualidade, reputação ou outra característica são essencialmente atribuídas a essa origem geográfica.
• No Brasil, existem 2 modalidades de Indicações Geográficas (IG): a Indicação de Procedência (IP) e a Denominação de Origem (DO);
• IP se aplica às regiões que se tornaram reconhecidas na produção de vinhos, ou seja, obtiveram reputação. É uma área delimitada que pode estabelecer regras quanto ao cultivo e a vinificação; e
• DO vai além da IP, pois se aplica também a uma área geográfica delimitada com regras estabelecidas, mas os vinhos devem comprovadamente apresentar qualidades ou características que se devem essencialmente ao meio geográfico, incluídos os fatores naturais e os fatores humanos, ou seja, o vinho com a marca do lugar, sua singularidade, sua peculiaridade. O vinho apresentará características que só existem ali e portanto só ficam impressas no vinho lá elaborado com as uvas também cultivadas na região;
• No Brasil o registro de Indicação Geográfica deve ser requerido junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com base na Lei da Propriedade Industrial brasileira e outras normativas legais. O processo passa por longa e criteriosa análise até seu deferimento;
• Atualmente o Brasil possui 12 IG de Vinhos, 9 no RS, 2 em SC, 1 no PR e 1 no nordeste do país (PE/BA). Temos 10 na modalidade IP e 2 na modalidade DO. Além da novíssima DO Altos de Pinto Bandeira (RS), há a DO Vale dos Vinhedos (RS), IP Pinto Bandeira (RS), IP Monte Belo (RS), IP Altos Montes (RS), IP Farroupilha (RS), IP Campanha Gaúcha (RS), IP Vale da Uva Goethe (SC), IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina (SC), IP Vinhos de Biturana (PR) e a IP Vale do São Francisco (PE/BA);
• Observe que além da DO, a região de Pinto Bandeira possui o selo de Indicação de Procedência (IP), que agora será restrita apenas para vinhos finos tranquilos, ou seja, vinhos que não são espumantes.

NA EUROPA

Como recordar é viver, também já foi dito aqui no blog que no Velho Mundo o conceito de indicação geográfica é muito forte. Além de criar vínculo com o consumidor, norteando suas escolhas pessoais no momento da compra, a criação de uma IG (DOP/IGP) traz como benefícios a organização coletiva dos produtores, o estímulo à economia local e o fortalecimento do nome dos produtos da região, com impactos determinantes na competitividade e com reflexo significativo na   atividade do enoturismo.

Equivalente à IP no Brasil, na Europa temos:

Equivalente à DO no Brasil, na Europa temos:

ESPUMANTES NA EUROPA

E no velho continente, há várias denominações de origem onde os espumantes protagonizam, como por exemplo:

• França: AOC Champagne, AOC Crémant d’Alsácia, AOC Crémant de Loire, AOC Crérmant de Bordeaux, AOC Crémant de Limoux, AOC Crémant du Jura, AOC Crémant de Bougnone, AOC Crémantde Savoie…
• Espanha: DO Cava
• Itália: DOCG Prosecco, DOCG Asti e DOCG Franciacorta

DO ALTOS DE PINTO BANDEIRA

 A pesquisa de estruturação da DO foi iniciada em 2016, tendo seus documentos protocolados no INPI em 2021. De acordo com a documentação apresentada ao INPI, ficou comprovado que existe uma vinculação das características e qualidades do espumante produzido em Altos de Pinto Bandeira com os elementos do meio geográfico.

A altitude média da área delimitada para a DO é de 632 m, com terrenos de relevo ondulado até montanhoso. As temperaturas são mais amenas, enquanto a exposição solar é favorecida pela localização da região na margem esquerda do Vale do Rio das Antas e pela boa circulação horizontal do ar devido à localização no alto de um dos patamares do planalto basáltico da Serra Gaúcha.

A DO Altos de Pinto Bandeira é exclusiva para espumantes elaborados com as uvas chardonnay, pinot noir e riesling itálico, cultivadas em espaldeira na região demarcada. São 65km² de área contínua, sendo 76,6% localizada no município de Pinto Bandeira, 19% em Farroupilha e 4,4% em Bento Gonçalves, todos na Serra Gaúcha. Os espumantes devem ser elaborados apenas pelo método tradicional, que é aquele em que a segunda fermentação ocorre dentro da garrafa, mesmo método utilizado na AOC Champagne.

Os cortes dos vinhos base podem ser de diferentes safras (no máximo até 5 anos), desde que com as variedades autorizadas  que são chardonnay, pinot noir e rieslimg itálica, sendo que o vinho base de riesling itálico está limitado a um máximo de 25% sobre o volume do produto final.  Quando safrados, os espumantes devem conter pelo menos 85% de vinho base da safra mencionada no rótulo. É permitida o uso de barricas de carvalho na primeira fermentação que resulta no vinho base.

Será exigido também tempo mínimo superior a 12 meses para o período que vai da adição do licor de tiragem (que induz a segunda fermentação) até o dégorgement, que é a eliminação dos depósitos de leveduras (líes), que após a etapa da  remuage vão para o bico da garrafa. Os espumantes também devem apresentar padrões físico-químicos específicos e ter a sua tipicidade comprovada por degustação realizada às cegas.

Quanto ao teor de açúcar residual,  estão autorizas as classes nature, extra-brut, brut, sec e demi-sec.

PRODUTORES DA REGIÃO

Inicialmente, os espumantes que fazem parte dos produtos validados são os das vinícolas Aurora, Don Giovanni, Família Geisse e Valmarino.

MINHA EXPERIÊNCIA COM OS ESPUMANTES DA REGIÃO

Visito produtores da região de Pinto Bandeira há pelo menos 10 anos e sou fã dos espumantes lá produzidos que apresentam qualidade consistente ao longo do tempo. Assim, sempre tenho uma ampola da região em casa pronta para me socorrer e costumo incluí-los nas minhas degustações. Já estive por diversas vezes na Valmarino, Don Giovanni e Cave Geisse. A seguir algumas das borbulhas que já passaram pela minha flûte.

VALMARINO

No Blog há um post específico sobre a Valmarino, Clique AQUI. Entre os grandes espumantes do produtor, estão os da linha Valmarino & Churchill que são resultado da parceria com o americano Nathan Churchill, comerciante de barricas de carvalho. Há o Exta Brut e o Prestige que é um nature, ambos entre os melhores espumantes do Brasil.

DON GIOVANNI

CAVE GEISSE

Produtor especializado em espumantes que há anos é sinônimo de qualidade.

VINÍCOLA AURORA

Os espumantes Aurora Extra Brut Pinto Bandeira e Gioia Sur Lie Nature  receberão o selo da DO.

Bons motivos para visitar a região e se hidratar com seus maravilhosos espumantes não faltam!

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