Caminhos Cruzados no Dão

Em maio de 2019, na última edição presencial da Vinhos de Portugal no Rio de Janeiro, numa época em que nem poderíamos imaginar a pandemia, o “blip” que estava por vir, conheci a simpática Lígia Santos da vinícola Caminhos Cruzados, que estava apresentando seus vinhos elaborados na região do Dão, dos quais já era fã. Também distante do que estávamos por passar, logo em janeiro de 2020, poucas semanas antes da explosão da pandemia, estive na bela região do Dão e visitei a Caminhos Cruzados na primeira semana de 2020. Este post no melhor estilo #tbt relembra esta agradável experiência!
A Caminhos Cruzados concretiza a vontade da família Santos, natural de Nelas, de regressar às suas origens para investir numa antiga paixão, o vinho do Dão. A ligação ao vinho, que nasceu nas gerações mais velhas, foi passada aos jovens da família, sendo que compete a Lígia Santos a condução do belo projeto, cuja filosofia é produzir vinhos de qualidade, aliando a tradição à modernidade.
O nome da vinícola vem do pensamento familiar de que a vida não se faz sempre por caminhos retos, pelo contrário, há percursos mais atípicos que nos levam a lugares incríveis. O lema é que cada vez que dois caminhos se cruzam, algo de fantástico pode acontecer, como acontece atualmente com os membros da família, com formações e vivências distintas, cujos percursos se cruzam no projeto. Assim, a arquitetura da Adega encontra-se perfeitamente integrada no ambiente, inspirada no logo da empresa, duas linhas que se cruzam.
Degustamos uma seleção de vinhos surpreendentes! Confira a régua com as ampolas degustadas:
- Titular Colheita Branco 2018: Acidez gostosa num agradável corte de encruzado, malvasia fina e bical.
- Passado Branco 2015: Complexo, elaborado a partir da casta encruzado, que fica “esquecido” até que atingir todo o seu potencial. Daí, seu nome. Gostei muito.
- Titular Dão Novo 2019: Vinho com proposta leve e descompromissada tal qual um “beaujolais nouveau”, para ser consumido ainda jovem, de preferência no próprio ano da safra.
- Titular Colheita Tinto 2017: Elaborado a partir de uma mistura de castas do Dão, onde predomina a touriga nacional, a tinta roriz e a alfrocheiro
- Titular Dão Reserva 2015: Corte encorpado de touriga nacional, alfrocheiro e tinta roriz.
- Titular Alfrocheiro 2015: Varietal da alfrocheiro com coloração intensa e corpo.
- Titular Touriga Nacional 2015: Um clássico da Caminhos Cruzados. Já gostava desde a safra 2013.
- Clandestino Tinto 2017: Vinho que desperta a curiosidade por omitir suas uvas. Seu nome vem do latim clandestinus, que significa às ocultas, feito às escondidas, sem ninguém saber.
- Descarada Branco 2017: Vinho doce feito num ano em que se verificaram temperaturas muito elevadas no período de maturação, razão pela qual as uvas atingiram alta concentração de açúcar. Por ter sido vindimado em finais de agosto, a acidez é elevada, o que contribui para um excelente equilíbrio com a doçura. Corte de chardonnay com sémillon.

Abaixo algumas das ampolas que trouxe para o Rio e bebemos durante a pandemia:
O vinho Passada que já comentei no instagram (clique AQUI) foi um dos que gostei muito e achei que valia a pena cruzar o Atlântico. Complexo, possui corpo, boa acidez e persistência. 100% elaborado com a uva encruzado, passa por longo período de maturação e estágio em carvalho que confere notas oxidativas e de evolução. Preenche bem a boca e no nariz sente-se diversos aromas: manteiga, baunilha, frutas secas, mel e pêssego maduro. É um vinho que nos convida a fazer uma reflexão…
Titular 2015 (a edição s/ nome) é um corte que havia provado no Brasil ainda sem rótulo e sem nome na Vinhos de Portugal. Quando visitei a Caminhos Cruzados, vi que havia sido batizado de “A edição s/nome” devido ao sucesso no Brasil!
E como a Encruzado é uma das minhas castas portuguesas brancas favoritas, fiquei triste de já ter se esgotado na vinícola. Por sorte encontrei uma ampola dando sopa em Lisboa. Também cruzou o Atlântico e veio para o Brasil.
Já comentei em post sobre o Dão (clique AQUI) que a principal cidade da região é a bela Viseu que obviamente merece ser visitada, mas nesta viagem exploramos sítios (como dizem os portugueses) menores, como a pitoresca vila de Nelas, pertíssimo da Caminhos Cruzados, onde há uma estátua homenageando a profissão de sommelier, que em Portugal se chama escanção. A estátua foi inaugurada em 1966, inspirada no Sr. Fernando Ferramentas, que na época trabalhava no Hotel Aviz em Lisboa. Você já ouviu falar da existência de outra estátua no mundo para homenagear o responsável pelo nobre serviço do vinho? Eu, nunca. Só em Nelas, no Dão.

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Saiba mais sobre o Dão no Post: Conhecendo o Dão e seus elegantes vinhos.
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