Nem só de Tequila vive o México!

Vinho no México? Isso mesmo! Engana-se quem acha que lá só há tequila e mezcal. No México são produzidos vinhos de qualidade e tive a oportunidade de provar alguns muito interessantes. Foram 15 dias visitando sítios arqueológicos, belas praias, cenotes e bebendo bons vinhos, já que fiz questão de acompanhar as refeições com vinhos do país. Neste pace, entre ampolas e taças, foram 18 vinhos. Uma agradável experiência! Neste post farei um relato do vôo panorâmico que fiz sob os vinhos mexicanos.
Mas, antes de começar, somente para cultura etílica geral:
- Tequila é um destilado que tem como matéria-prima o agave azul, uma planta suculenta que não é cacto, e deve ser produzida em região delimitada.
- Mezcal é produzido a a partir do sumo fermentado do agave. O mezcal é mais “rústico” que a tequila , sendo em geral destilada apenas uma vez, contra duas ou três da tequila. Alguns produtores costumam introduzir o gusano (uma espécie de larva de mariposa) dentro das garrafas de mezcal.
Ou seja, mezcal é mais “raiz “que Tequila. É para os fortes.

Agora vamos pro vinho!
AS REGIÕES PRODUTORAS DE VINHO NO MÉXICO
O México possui diversas regiões produtoras, sendo a mais famosa a Baja Califórnia, onde são produzidos mais de 80% dos vinhos do país, por cerca de 200 vinícolas. Os vinhos elaborados no Valle de Guadalupe são o destaque da região, que fica a menos de 3 horas de carro de San Diego (CA) e possui estrutura turística bem desenvolvida. A fronteira quem faz é o homem, não a natureza, então a região é quente e seca, mas arrefecida pelos ventos frios do pacifico, tal qual a Califórnia dos EUA, sua vizinha ao norte.
As uvas brancas mais cultivadas no México são chardonnay e sauvignon blanc, sendo esta última numa escala muito menor que a primeira. Entre as tintas destacam-se a cabernet sauvignon, cariñena, merlot, syrah, tempranillo e nebbiolo.
CHARDONNAY
Casa Madero e Monte Xanic são grandes produtores que possuem ampla gama de rótulos e são facilmente encontrados em restaurantes e lojas.
- Chardonnay da Casa Madero é bastante aromático com toques florais fortes e acidez marcante.
- Chardonnay Monte Xanic lembra muito um Chablis, possui acidez e toques minerais agradáveis. Foi o que mais gostei dos chardonnays que provei.
- Chardonnay L.A. Cetto, agradável, no melhor estilo californiano dos EUA com notas de manteiga e baunilha. Não é cansativo, agradou bastante e foi o mais em conta desta série.
- Venus. É um vinho com aquela pegada de vinhos naturais de pequeno produtor com pouca intervenção que bebemos num bar de vinhos.
O chardonnay Altotinto acima passa 9 meses em barricas de carvalho e segue o estilo dos chardonnays elaborados na Califórnia dos EUA e neste estilo foi o que guardamos boas recordações.
CABERNET SAUVIGNON
Não poderíamos deixar de provar um 100% cabernet sauvignon e tivemos a oportunidade de conhecer dois vinhos elaborados em diferentes vales da Baja California: Guadalupe e Santo Tomás.
- Monte Xanic Cabernet Sauvignon 2021: elaborado no Vale de Guadalupe com passagem de 12 meses por barricas de carvalho francês de 2º uso. Bom vinho que atendeu as expectativas.
- Cabernet Sauvignon 2021 da Santo Tomás, elaborado no vale de mesmo nome. Também faz estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês.
VINHOS DE COMBATE
O termo pode parecer pejorativo, mas não é. Neste rol incluí aqueles vinhos mais simples, mais despretensiosos, mas que cumprem sua missão de entreter…
- 3 V da Casa Madero que como o nome entrega é elaborado com 3 varietais: cabernet sauvignon, merlot e tempranillo.
- Os vinhos Quinto Encuentro foram consumidos em taça. O sauvignon blanc agradou mais do que o tinto, elaborado com corte de cabernet sauvignon, merlot e syrah.
Dentre os vinhos despretensiosos, o Mezcla de Tintos da Corona del Vale abaixo foi o mais interessante. Elaborado com 60% Cabernet Sauvignon, 30% Merlot e 10% Malbec com estágio de 6 meses em barricas de carvalho usadas.
AGRADÁVEIS DESCOBERTAS
Aqui coloquei aqueles vinhos que surpreenderam, excedendo as expectativas.
- Uma das surpresas da viagem foi este interessante corte de 70% shiraz com 30% merlot no melhor estilo australiano.
- Copernicus que faz parte da linha chamada “astrónomos” da El Cielo, que tem também o Galileio e o Aristóteles. Este Copernicus é elaborado com 70% cabernet sauvignon e 30% merlot.
- Altotinto Vinos de Autor Syrah 2016 também foi um vinho memorável. Faz estágio de 15 meses em barricas de carvalho americano.
- Inmigrante 2018 interessante corte de petit verdot e tempranillo.
- Fusione 2020 da Vila Montifiori. Corte de 70% cabernet sauvignon e 30% merlot que faz estágio de 18 meses em barricas de carvalho.
- Incógnito 2017. Como o nome propõe, seu rótulo nada entrega, mas trata-se de corte de cabernet sauvignon, zinfandel e garnacha.
E por fim, o vinho que foi dica da minha amiga dos tempos de faculdade, Catherine, que está sempre por lá e conhece muitos os vinhos do país. Ela me indicou o Mariatinto.
Gostamos muito deste curioso e complexo corte composto por 30% tempranillo, 30% syrah, 30% nebbiolo, 5% merlot e 5% cabernet franc com estágio de 12 meses em barricas de carvalho, sendo que cada parcela passa por barrica usada de diferentes idades.
BÔNUS
Em Playa del Carmen há dois winebars bem legais que recomendo conhecer. Ambos com muita oferta de vinhos mexicanos em garrafa e taças:
- Off the Vine que fica no número 40 da badalada Quinta Avenida.
- Wine o’ clock na Avenida Constituyentes 90
E viva o México!
6 Comments
Entre na discussão.
Excelente! Muito interessante e útil esse post. Adoro descobrir novas regiões de vinho não tão divulgadas no Brasil. Também me fez lembrar boas viagens para o México..
Você experimentou o Gabriel, tinto, blend, do Valle de Guadalupe? Eu me lembro que gostei bastante. Caso conheça, queria sua opinião.
Olá Ana Paula! Muito obrigado, fico feliz que tenha gostado do post. Infelizmente não tive a oportunidade de experimentar o “Gabriel”, mas tá anotado aqui, coloquei no meu radar. Abs
Fernando,
Há um dito popular que ouvimos amiúde em duas versões contraditórias, sendo a que tem me parecido mais verdadeira seria a que diz algo como “De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo”. 😬
Mas depois deste seu post, e de seu “selo de aprovação”, tenho de rever meus conceitos e preconceitos e passar a incluir os vinhos mexicanos (pelo menos os aqui indicados) em minha lista de futuras eno-degustações.
Continue seu utilíssimo serviço de divulgação do mundo do vinho sempre nesse elevado nível!
¡Felicitaciones!
Grande amigo Angelo. Agradeço seus gentis comentários. Exatamente isso, o universo dos vinhos é infinito…
Adorei saber um pouco mais sobre os vinhos mexicanos.
Obrigada Fernando
Fico feliz que tenha gostado! Grande abraço.