Os surpreendentes vinhos de Israel na RWFF

Os vinhos de Israel marcaram presença nesta edição da Rio Wine & Food Festival (RWFF) e foram o tema de uma Master Class muito interessante e inédita, conduzida de forma dinâmica e descontraída pelo consultor de vinhos Carlos Cabral que esteve recentemente em Israel visitando dezenas de vinícolas.

A primeira vez que fiquei curioso para conhecer os vinhos de Israel foi no final de 2016 quando li sobre eles na Wine Spectator na edição na qual foram matéria de capa da conceituada revista norte-americana.

Mas confesso que de lá para cá, deixei esta curiosidade adormecida até que no início deste ano tive a oportunidade de degustar 3 grandes vinhos de Israel: o encorpado corte da Domaine Du Castel e os ótimos chardonnay e cabernet sauvignon da Yarden. Fiquei encantado!

Assim, fascinado pela qualidade dos vinhos acima, não poderia perder a Master Class “Vinhos de Israel” programada para a 6ª edição da RWFF e nesta vibe fui com grande expectativa conferir os 10 vinhos selecionados para o evento.

De maneira bem informal e com sua habitual simpatia, Carlos Cabral iniciou a degustação trazendo dados muito interessantes sobre o mercado de vinhos e a cultura e a história da vinha em Israel.
- A cultura da vinha data de 5000 anos, ou seja, os caras têm experiência!
- Nos anos 80 e início dos 90 teve início a “moderna” produção de vinhos em Israel graças a contribuição do Barão Rothschild, proprietário do mítico Château Lafite que trouxe a expertise francesa.
- No final dos anos 90 vários enólogos israelenses foram para a Califórnia e de lá trouxeram técnicas e o conhecimento do vinho do novo mundo para o seu país.
- A partir de 2000 o vinho de Israel passa a ter sua qualidade reconhecida internacionalmente e a receber prêmios.
As principais uvas cultivadas são: cabernet sauvignon (19%), carignan (13%), merlot (12%), syrah (7%), petit verdot (6%), argaman (5%), colombard (4%) muscat de alexandria (4%), chardonnay (3%), sauvignon blanc (3%), cabernet franc (2%) e malbec (2%).
Israel possui 5 regiões produtoras registradas desde 1974:
- Galilee
- Shomron
- Samson
- Judean Hills
- Negrev
Mas há propostas de subdivisões e novas regiões atualmente em progresso, conforme o mapa abaixo:

- A produção anual é de 40 milhões de garrafas de vinhos/ano (dados de 2017)
- Há mais de 300 vinícolas em atividade
- 5.500 hectares cultivados
- Consumo anual: 5 litros percapta (mais que o dobro dos 1,9 l do Brasil)
- Exporta US$50 milhões em vinhos (20% de sua produção) principalmente para a América do Norte, que reponde por 55% das exportações, e Europa que fica com 35%.
- Seus principais importadores: EUA, França, Reino Unido, Canadá, Polônia e Alemanha.
O vinho israelense em alguns aspectos mercadológicos lembra muito o californiano, pois possui uma qualidade média muito boa, mas infelizmente há poucas opções de bons rótulos a preços mais econômicos por aqui e graças ao seu forte mercado interno, 80% de sua produção é consumida em Israel, pouco é exportado. Tal qual o vinho australiano e o neozelandês, sofre com o alto custo do frete para o Brasil.
Agora, vamos aos vinhos degustados:

A degustação começou com um espumante e fechou com chave de ouro com um vinho de sobremesa elaborado com a uva muscat de alexandria:
- Espumante brut 562 da Tabor que fica localizada na região da Galiléia. Elaborado com 80% de chardonnay e 20% de cabernet sauvignon, possui bom frescor e uma discreta perlage.
- Muscat 2014. Trata-se de um delicioso vinho de sobremesa elaborado com a muscat de Alexandria pela vinícola Yarden que fica nas Colinas de Golã. Notas cítricas, casca de laranja, mel e flor. Doçura em perfeito equilíbrio com a acidez.
Depois do espumante, seguimos para os brancos. Gostei muito das duas ampolas que degustamos, foram dois interessantes chardonnays bem ao estilo novo mundo:
- Reserve Chardonnay 2016 da Binyamina. Uvas provenientes de dois vinhedos (Galilee e Judean Hils) e cultivadas a mais de 600m de altitude. Faz estágio em carvalho francês por 6 meses, notas de abacaxi bem discretas, manteiga e baunilha. Boa persistência e corpo.
- Chardonnay 2015 da Yarden. É mais complexo e persistente que o primeiro. Possui agradável frescor, mineralidade e bom corpo. Agradáveis notas de baunilha e manteiga. Redondo na boca. Estagiou 7 meses em carvalho francês, sendo que 50% das barricas eram novas. Vinhas com 1.200m de altitude nas Colinas de Golã. Foi um dos meus vinhos preferidos da Master Class.
Os trabalhos com os tintos foram muito bem iniciados com um surpreendente cabernet franc, depois degustamos dois vinhos elaborados com a syrah e na sequência um cabernet sauvignon, um marselan e por último um potente merlot com 15% de graduação alcoólica.
Vou começar pelas ampolas da casta syrah:
- Syrah Reserve 2015 da Tulip. Possui em sua composição 5% de petit verdot. Passa 16 meses em barricas de carvalho americano e francês (50% em cada). Notas de frutas negras, apresenta bom corpo e persistência. Possui 15% de graduação alcoólica. Recomendaria decantá-lo.
- Oak Age Estate Shiraz da Dalton. Passa 12 meses em barricas de carvalho americano, possui notas de cassis, frutas negras e especiarias. Taninos macios, corpo e persistência. É redondo na boca.
Abaixo dois tintos que achei muito interessantes, sendo que o cabernet franc foi o meu tinto preferido dentre os rótulos degustados:
- Highlander Cabernet Franc 2014 da Har Bracha. A vinícola fica localizada na região de Shomron e seus vinhedos estão a mais de 800m acima do nível do mar. Har Bracha significa “Benção do Monte”. Este vinho passa 24 meses em carvalho francês, possui graduação alcoólica elevada (15,5%). Me surpreendeu, se mostrando bem equilibrado e elegante. Possui corpo, apresentou notas de frutas negras e vermelhas maduras. Decantá-lo também me pareceria uma boa pedida.
- Marselan Gershtain Special 2016 da Jerusalem Wineries. 100% Marselan, casta francesa obtida através do cruzamento da cabernet sauvignon com a grenache. Já provei bons rótulos desta casta do Brasil e do Uruguai, e este exemplar israelense figura entre os interessantes que cruzaram meu caminho. Passa 10 meses em carvalho francês, é equilibrado e mesmo sendo um 2016 se mostrou pronto para beber. Notas de frutas vermelhas e tabaco sobressaíram.
- Highlander Merlot 2013 da Har Bracha. Possui em sua composição, além da Merlot, 10% de Petit Verdot e 5% de cabernet franc. Passou por estágio de 24 meses em carvalho francês. Foi o último tinto degustado. É um vinho complexo, encorpado e persistente. Possui 15% teor alcoólico. Notas de tabaco, café e pelica de couro. Certamente possui bom potencial de guarda e recomendaria decantá-lo.
- M Series 2016 da PSÂGOT. Varietal 100% cabernet sauvignon. Passou 10 meses em carvalho americano. É um vinho encorpado e persistente. Taninos bem marcantes, promete evoluir bem na garrafa. A vinícola possui rótulos que figuram entre os vinhos das residências do presidente e do Primeiro Ministro de Israel.
Foi uma experiência fantástica e uma oportunidade de conhecer vinhos de ótima qualidade produzidos por regiões com tradição milenar, mas que, infelizmente, estamos pouco habituados a encontrar por aqui. A boa notícia é que Israel possui Acordo de Livre Comércio (ALC) com o Mercosul, então vale ficar sempre atento, pois quem sabe, não aparecem boas ampolas de Israel por aqui.
Shalom!
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