Que tal um espumante brasileiro para começar?
Alguém conseguiria imaginar um restaurante francês ofertando vinhos de todo o mundo e apenas dois ou nenhum dos seus? E um estabelecimento italiano, português ou espanhol, faria isso com sua indústria e com seus produtos? E com nossos vizinhos hermanos? Há algum restaurante argentino que oferte em sua carta produtos chilenos? E no Chile, uma carta de vinhos repleta de opções argentinas? Situações impensáveis! Desafio qualquer um a me apontar um país produtor de vinhos onde os restaurantes de suas principais cidades ofereçam em suas cartas pouquíssima ou nenhuma opção de vinhos nacionais. Dentre os países que produzem vinho, salvo os restaurantes de grandes cidades americanas, que devido a sua característica cosmopolita oferecem produtos do mundo todo, acho que não é arriscado afirmar que somente no Brasil, nossos restaurantes, salvo raras exceções, praticamente não oferecem vinhos nacionais. E mesmo nos EUA, não se deixa de dar amplo espaço aos seus produtos. Aqui, quando raro, encontramos perdidas nas cartas de nossos restaurantes uma ou duas opções e na maioria dos casos ficam só no espumante, e mesmo nestas situações o que é ofertado fica a desejar, longe do que temos de melhor.
A produção dos vinhos no Brasil evoluiu muito e se modernizou. Novas regiões foram descobertas, novas cepas testadas. Enfim, a indústria deu um salto de qualidade, amadureceu. Há dez anos que visito a região do Vale dos Vinhedos e arredores e nota-se evolução constante.
Vou focar inicialmente nos vinhos espumantes para em outra oportunidade abordar os vinhos tranquilos (como são conhecidos os que não são espumantes). Realmente os espumantes nacionais são um caso de sucesso e merecem um capitulo a parte nesta história. Há anos, consumo quase que unicamente espumantes nacionais. A qualidade média destes é infinitamente superior, por exemplo, a dos proseccos, tipo de espumante italiano, que encontramos no nosso mercado. Aliás, há uma enorme oferta de proseccos muito fracos, dos quais ganhamos de goleada. Quanto aos Cavas (é substantivo masculino mesmo), que são os espumantes espanhóis da região da Catalunha, no mercado brasileiro é até possível encontrar produtos muito bons, mas em pé de igualdade aos nossos, e não em posição de superioridade, principalmente se pegarmos os produtos premiuns brasileiros. Alem da qualidade superior, nossos espumantes ganham no custo-benefício. Ou seja, neste segmento somos competitivos em qualidade e preço. Para confirmar a regra, a exceção são os champagnes, espumantes franceses produzidos na região demarcada que leva esse nome. Estes realmente estão em um patamar superior a todos e possuem outro posicionamento de preço, mas apenas o seleto grupo dos champagnes, e não qualquer espumante francês (os das demais regiões). Também possuímos espumantes premiuns, produtos de alta gama, de pequena produção, da mais alta qualidade, que são mais caros, mas certamente custarão no mínimo três vezes menos que os champagnes e não decepcionarão.
Com relação a normatização, no Brasil pode-se fazer espumante de qualquer cepa, exceto no Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira e Altos Montes que possuem disposições especiais. Também somente nestas regiões o método de fabricação é regulamentado, fora destas pode-se utilizar o tradicional (champanoise), onde a segunda fermentação ocorre na garrafa ou o charmart, onde a segunda fermentação ocorre em recipientes maiores. Quanto ao teor de açúcar, a legislação brasileira estabelece que os espumantes podem ser:
Classificação |
Concentração de Açúcar |
Nature |
até 3g/l |
Extra-brut |
de 3 a 8 g/l |
Brut |
de 8 a 15 g/l |
Sec ou seco |
de 15 a 20g/l |
Demi-sec |
20 a 60g/l |
Doce |
Acima de 60 g/l |
Assim, quando me pedem uma dica de espumante, indico, sem medo de errar, um brasileiro. Infelizmente, nos nossos restaurantes a oferta é ínfima ou quase que nenhuma, o mesmo ocorrendo nas lojas especializadas. Os maiores produtores como Chandon, Miolo, Casa Valduga e Pizzato, possuem uma linha extensa de produtos e melhor logística de distribuição, portanto são mais fáceis de serem encontrados. Há produtores que só trabalham com espumantes e esta especialização influencia favoravelmente na qualidade dos seus produtos, como é o caso da Cave Geisse e da Adolfo Lona.
Grandes descobertas também são feitas nos produtores menores e nesse caso, a melhor maneira é comprar através da internet, no próprio sitio eletrônico da vinícola, ou ainda pesquisar lá quem distribui o produto na sua cidade. Em maio deste ano visitei novamente o Vale dos Vinhedos e Pinto Bandeira no RS, estive em diversas vinícolas e gostei muito dos espumantes que bebi, principalmente os da Angheben, da Valmarino, da Cave Geisse, da Pizzato e da Vallontano.
A ideia não é abrir mão da diversidade de vinhos de vários países que temos o privilegio de acesso no Brasil, mas que seja dado mais espaço aos vinhos nacionais, principalmente aos nosso excelentes espumantes.
Este post é uma adaptação e atualização da Coluna Boas Taças que foi originalmente publicada em 12/06/2015 no jornal carioca O Sol.
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A produção de leite não escapa a essa evolução.
Muito bom. Parabéns.
Muito obrigado pelo incentivo de sempre!
Adorei!
Que bom! Rsrsrsrs. Bjs.