Real Companhia Velha e a sua Quinta das Carvalhas às margens do Douro

A Real Companhia Velha tem muita história, É uma das mais antigas empresas de vinho de Portugal com atividade ininterrupta desde 1756 quando foi fundada pelo Rei de Portugal D. José I, tendo sido comandada pelo seu primeiro ministro, Marquês de Pombal, responsável por demarcar a região do Douro. Desde 1960, a Real Companhia Velha é gerida pela família Silva Reis e produz vinhos do Porto e DOC Douro, sendo proprietária de 5 quintas, entre elas a Quinta das Carvalhas nas margens do belo Douro, na altura da vila de Pinhão. E foi justamente a Quinta das Carvalhas que tive o prazer de visitar na última manhã de 2021, exatamente no dia 31 de dezembro.
Na verdade a ida à Quinta das Carvalhas é muito mais que uma visita técnica, é uma verdadeira visita ao Douro! Sua propriedade situa-se na encosta da margem esquerda, virada para a vila de Pinhão, acompanhando o rio por mais de 3 km, com vinhas que se estendem por várias altitudes (80m-500m) e diversos níveis de inclinação desde o rio Douro até o topo da encosta. As vistas das partes mais altas são de tirar o fôlego! Fomos bem alto, até as ruínas de uma antiga casa de trabalhadores que foi recuperada.

O patrimônio vitivinícola da Quinta das Carvalhas é muito rico e composto por cerca de 134,5 hectares divididos em:
- Vinhas velhas tradicionais (37,7 ha) com idades entre 50 a mais de 100 anos e formadas por complexa mistura de dezenas de castas autóctones: Tinta Roriz, Touriga Franca, Touriga Nacional, Tinta Amarela, Rufete, Sousão, Preto Martinho, Cornifesto, Tinto Cão, Tinta Francisca, Touriga Brasileira, Tinta Barroca, Moreto, Bastardo, Tinta Roseira, Tinta de Rei, Tinta Carvalha, Malvasia Preta, Alicante Bouschet, Mondet, Tinta Bastardinha, Donzelinho Tinto, Casculho, entre outras….
- Vinhas novas (10 ha) formadas por Touriga Franca, Tinta Roriz e Tinta Barroca que foram plantadas nas décadas de 80 e 90. São vinhas destinadas a melhorar o rendimento por área e garantir a qualidade focada dos vinhos DOC Douro de qualidade superior.
- Vinhas monovarietais em parcelas extremas (86,7 ha) que foram plantadas desde o final dos anos 90 até a atualidade, onde são utilizadas técnicas modernas com o objetivo de salvaguardar a sustentabilidade e biodiversidade do ecossistema, além de recuperar todo o património vitícola da região. Diversas castas compõem estas vinhas.
Após o tour fomos degustar uma seleção bem interessante e representativa dos vinhos elaborados na Quintas das Carvalhas: 4 DOC Douro e um Vinho do Porto:

- Carvalhas Branco 2019: Corte de Viosinho e Gouveio cultivadas a 400m de altitude. Complexo com potencial de guarda. Faz estágio de 8 meses em barricas novas de carvalho francês sobre borras finas. Gostamos muito.
- Carvalhas Tinta Francisca 2017. Casta pouco comum de encontrar em varietais, surpreendeu com seu médio corpo, taninos mais leves e intensidade aromática que remete a furtas vermelhas. Um vinho bem original. Faz estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês usadas.
- Carvalhas Touriga Nacional 2017. Vinho intenso, persistente e encorpado com notas de violeta e frutas negras e vermelhas. Faz estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês usadas.
- Carvalhas Vinhas Velhas 2018. Vinho complexo com alto potencial de guarda. As uvas provenientes de vinhas centenárias são submetidas ao ancestral processo de pisa a pé nos tradicionais lagares de granito, promovendo uma extração mais vigorosa de taninos e demais compostos presentes na pele das uvas. Faz estagio de 18 meses em barricas de carvalho francês, sendo que 50% são novas.
Ao final, encerramos os trabalhos com o delicioso Porto Colheita 1976 acima.


PÓS CRÉDITOS 1
Nesta viagem, ainda tive a oportunidade de me hidratar com o Sauvignon Blanc 2019 abaixo elaborado pela Quinta de Cidrô, que tal qual a Quinta das Carvalhas, também pertence a Real Companhia Velha, que ainda possui a Quinta dos Aciprestes, a Quinta do Casal da Granja e a Quinta do Síbio.
PÓS CRÉDITOS 2
Em 2021 na ABS-Rio tive a oportunidade de conhecer 04 vinhos da linha Séries, através de degustação online conduzida por Pedro Silva Reis, que faz parte da terceira geração da família Silva Reis, proprietária da Real Companhia Velha, e integra sua equipe de enologia.
A Séries é uma linha experimental da Real Companhia Velh,a que recupera castas nativas, muitas desconhecidas e grande parte já em extinção. É uma linha muito especial que resulta em pequenos projetos voltados para o conhecimento do terroir duriense, aliado às características únicas destas exóticas variedades. São elaboradas poucas garrafas de cada vinho que são verdadeiros ensaios onde procura-se explorar diferentes técnicas e castas que podem vir a ser aplicados na gama comercial. Assim, degustamos 04 vinhos muito originais:
- Branco Séries Gouvães 2017
- Branco Séries Samarrinho 2018
- Tinto Séries Malvasia Preta 2017
- Tinto Séries Tinto Cão 2016
2 Comments
Entre na discussão.
Great master Fernando!
Quero parabenizá-lo pelo post sobre a Real Companhia Velha, de especial nostalgia para mim pois era o Porto preferido de meu saudoso pai. Lembro que sempre havia uma garrafa dele em casa.
Assim, foi uma satisfação aprender sobre essa real instituição da vitivinicultura e enologia lusitana, com uma apresentação que você faz de forma magistral!
Querido amigo Ângelo, muito obrigado pelas belas palavras. Fico muito feliz que tenha gostado do texto e principalmente pelas boas lembranças trazidas! Quando estiver na região, fica a dica para incluir esta vista no seu roteiro; e quando estiver no Porto, recomendo também visitar o museu da Real Companhia Velha. Grande abraço.