Saint VinSaint: o lar dos vinhos naturebas em SP

Há muito tempo que tinha vontade de conhecer, mas somente em viagem recente a São Paulo tive a oportunidade de visitar e jantar na Enoteca Saint VinSaint que é especializada em vinhos orgânicos e biodinâmicos.
Apesar de simpatizante e até praticante, não sou um especialista no tema. Entretanto, vou tentar definir de forma breve e simplificada os termos:
- Orgânico é uma denominação relacionada às práticas agrícolas utilizadas no vinhedo. O vinho orgânico é aquele obtido através de uvas que foram cultivadas organicamente, ou seja, por meio de uma agricultura que tem por filosofia lidar com o meio ambiente de uma forma menos agressiva, ao melhor estilo “da fazenda para a mesa” (farm to table). Assim, não se permite a utilização de produtos fabricados industrialmente, tais como, fertilizantes ou adubos químicos, que são absorvidos pela raiz e podem contaminar a planta e o solo; e defensivos químicos (pesticidas, inseticidas, herbicidas e fungicidas), empregados para eliminar as pragas que prejudicam a vinha. Substâncias sintéticas, especialmente os conhecidos OGMs (organismos geneticamente modificados) também estão vetados. A grande maioria desses vinhos traz no rótulo a informação “produzido com uvas cultivadas organicamente” ou outra expressão similar.
- A viticultura biodinâmica, além de seguir os mesmos preceitos da orgânica, os produtores se baseiam no calendário lunar, já que acreditam que o desenvolvimento dos seus vinhedos é influenciado pelos astros (posição da lua e do sol) que determinam a melhor época para plantio, poda e colheita. Respeitando o ritmo natural do solo e parreirais, os frutos gerados são, em tese, de melhor qualidade. Os princípios da biodinâmica foram definidos em 1924 por Rudolf Steiner, filósofo e cientista austríaco, que estudou a interligação entre o homem, as plantas, a Terra e o cosmos. Além disso, a produção biodinâmica utiliza preparos naturais nas suas parreiras para estimulá-las, tais como, chifres de vaca recheados de estrume que são enterrados no solo, do equinócio de outono até a primavera, para fazer com que as raízes da vinha desçam mais profundamente no solo e fiquem mais resistentes.
Voltando a Enoteca Saint VinSaint, posso afirmar que é o único restaurante do Brasil que trabalha com uma carta composta exclusivamente por vinhos orgânicos e biodinâmicos, ou seja, os vinhos “naturebas” como são carinhosamente chamados por lá. Também me surpreendeu a grande oferta de vinhos laranjas disponíveis, dos quais comecei como um simples curioso e agora sou um grande entusiasta (Vide post: Você já bebeu um vinho Laranja?). Os melhores laranjas brazucas estão por lá, além de diversos exemplares eslovenos e italianos. A carta está disponível no site do estabelecimento, exemplo que todos os restaurantes no Brasil deveriam seguir.
Como meus recursos hepáticos são limitados e tenho bebido muitos vinhos laranjas recentemente, concentrei o foco nos tintos. E lá me deparei com o produtor patagônico Marcelo Miras que sou fã há tempos. Miras é o enólogo da gigante Bodega del Fin del Mundo, mas toca um projeto particular no qual produz em pequena escala seus próprios rótulos. Já conhecia e adorava três de seus varietais (pinot noir, merlot e cabernet franc), mas não havia provado ainda o seu malbec. Por isso, fiquei feliz em poder reparar naquela noite esta falha no meu currículo, já que o Malbec do Miras estava lá, na carta da Saint VinSaint olhando para mim! Tal qual os outros vinhos do produtor, não me decepcionou e fez bonito. Mais informações sobre os vinhos do Marcelo Miras, leiam os posts A Pinot Noir além do seu reino; e A outra Cabernet!

Aproveitei a viagem também para provar dois “naturebas” chilenos. Opções muito menos conservadoras que o Malbec do Miras, eram vinhos bem interessantes. Nesta eu fui solo, sem a cooperação dos demais da mesa. Gostei mais do primeiro, La Orilla do produtor Bustamante, que era um corte de cabernet sauvignon, merlot e carmenére. O segundo, o Pipeño elaborado com a uva país, me pareceu um vinho mais bruto, carecendo de elegância.
Obviamente, nem só de vinhos vive o restaurante e a comida também agradou muito a todos. O cardápio fica exposto numa lousa e muda frequentemente. A casa trabalha somente com produtos orgânicos e artesanais, estando sujeita a sazonalidade dos mesmos. Seus fornecedores são fazendas ou pequenos produtores, geralmente ao redor da cidade de São Paulo. Não são utilizados refinados e a cozinha fica aberta e exposta para o salão.





A Enoteca Saint VinSaint fica na Rua Professor Atilio Inocenti, 811, Vila Nova Conceição, São Paulo. O lugar é pequeno, convém reservar: 11. 3846 03 84.
Posts mencionados:
Os vinhos orgânicos e biodinâmicos já foram objeto da coluna Boas Taças, que escrevia para o jornal carioca O Sol, publicada na edição de 09 de outubro de 2015.
Deixe uma resposta