Vinho: beber, degustar ou analisar?

Acredito que beber, degustar e analisar são ações completamente distintas. Beber é simplesmente ingerir o líquido ou até mesmo um ato social. Degustar é apreciar com deleite e atenção. Analisar é fazer uma avaliação sensorial atenta que envolve visão, olfato e paladar.
Eu amo beber e degustar vinho, mas entendo que nem todos curtem o ritual de analisar a bebida de forma profunda e muitas vezes quase técnica. Como colocou muito bem a amiga Tita Morais, especialista em vinhos, “descrever as características de um vinho nos mínimos detalhes (…) pode ser considerada divertida ou essencial para uns, como também pode ser extremamente cansativa e desinteressante para outros”. Concordo plenamente. Por experiência, vejo que cada um possui uma relação diferente com o vinho. Uns não têm o menor interesse em se aprofundar e querem apenas curtir a bebida, como por exemplo aqueles que num jantar ou numa festa bebem, mas nem se interessam em saber qual era o vinho, país ou região. Já outros, quando bebem um vinho, logo se interessam em obter mais informações, chegando até a fotografar o rótulo!

Na minha opinião, os fatores que devem ser considerados são a ocasião, o local, as companhias e o próprio vinho. Não é toda vez que quero analisar um vinho em detalhes, como faço em grupos de degustação ou quando sou jurado em provas e concursos. Muitas vezes busco apenas obter o prazer da bebida. Já outras vezes, quero ir mais longe e olhar com mais profundidade o que estou bebendo. Mas isto requer que as companhias estejam na mesma “vibe”, caso contrário, será papel de enochato.

Da mesma forma, nem todo vinho precisa ser ou deveria ser “analisado”. Não faz sentido. Usando uma analogia ao cinema, uma outra paixão minha, na maioria das vezes o vinho é apenas um figurante, ao passo que em outras ocasiões ele pode ganhar mais importância, podendo passar para a condição de ator coadjuvante e até, em determinados momentos, desempenhar o papel de protagonista e merecer mais atenção, trazendo os holofotes para si.
Tudo é possível! Alguns vinhos desempenham muito bem seu papel em determinada ocasião e depois, vida que segue. Outros nos emocionam, nos tocam, nos convidam a uma reflexão, nos remetem a lugares e a histórias incríveis, ficando na nossa memória. Isso é um convite a nos aprofundar um pouco mais no tema, investir em mais conhecimento, leitura e, como diria Marcelo Copello, em litragem.
Acredito plenamente que quanto mais sabemos sobre um tema, mais o prazer daquela experiência é potencializado. Vale pra tudo, não só pro vinho. Você pode ir ao cinema, assistir um filme do Woody Allen e se divertir. Pode gostar ou não, sair do cinema e seguir sua vida. Mas não seria mais enriquecedora sua experiência se você assistisse ao filme do Woody Allen sabendo quem ele é, tendo assistido outros de seus filmes, sabendo que agora ele só filma na Europa, que no início de sua carreira ele só filmava em Nova Iorque e que fez verdadeiras declarações de amor a sua cidade? Ou imagine como é diferente assistir ao filme Vingadores Ultimato conhecendo os super-heróis, suas origens e poderes. E visitar o Museu D’Orsay? Este passeio não seria ainda mais agradável se você conhecesse um pouquinho mais sobre Monet, Renoir e Van Gogh? Potencializa sua experiência.
Não é preciso ser um “especialista” para ser feliz e obter prazer com o vinho, mas tenho certeza que quanto mais você conhecer e se interessar, mais prazerosa será sua experiência. Cabe a cada um decidir o quanto tem interesse em se aprofundar. O que importa é ser feliz abrindo suas ampolas e compartilhando com pessoas queridas!

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6 Comments
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Concordo com seu artigo. Há vinhos para essas três atividades. E muitos rótulos ficarão para sempre na nossa memória.
Exatamente, Cláudia! Vinhos e ocasiões para as três atividades! O importante é ser feliz!
Muito bom artigo. Na reflexao, ao final, há um balanço entre simplicidade de um vinho que acompanhe bem e a sofisticação de buscar entender o terroir. No final o que vale é o prazer.
Exatamente, meu caro amigo! E tudo em equilíbrio!
Bom dia . Concordo com seu ponto. Só não gosto do termo análise. Me remete a um laboratório com alguém de branco pegando vinho com pipetas e colocando em tubos de ensaio. Engraçado que sempre usei degustação se forma solta para os dois casos. Não sei se análise é um termo consagrado na indústria…. Degustação técnica e degustação por prazer ou hedonista é uma sugestão….
Olá Daniel! Rsrs. Boa sugestão! E tá perfeito, é exatamente isso! Também usava “degustar” de forma latu sensu, mas acho que faz mais sentido subdividir entre “técnica” (analisar) e “por prazer” que seria simplesmente “degsustar”. Grande abraço.