Afinal, o que seria um vinho com bom custo x benefício?

Sugestão de vinhos com boa relação “custo x benefício” é o que a maioria dos seguidores, leitores e amigos me pedem constantemente. Respondê-los não é fácil e cabe muita subjetividade. No exterior estes vinhos são chamados de great value, top value ou best buy.



Claro que todos querem beber um vinho BBB (bom, bonito e barato), inclusive eu! Mas o que seria um bom “custo x benefício” para um vinho? Seria conseguir “mais por menos”, ou seja, extrair o máximo de prazer e satisfação, pagando o mínimo? E como mensurar prazer e satisfação?
Quem chamou minha atenção para esta reflexão foi o meu amigo, presidente da ABS-Rio e Formateur Accrédité (Wine Educator) du Vin de Bordeaux, Joseph Morgan Jr. Um pouco avesso à expressão “custo x benefício”, ele colocou um interessante questionamento: “Quando compramos um vinho buscamos algum benefício? Ou buscamos obter prazer e compartilhar uma agradável experiência?”. Assim Joseph defende para o vinho a expressão “qualidade x preço”. Passei a concordar com ele, mas acho que no mundo do vinho, cabe a coexistência pacífica dos 2 conceitos: “custo x benefício” e “qualidade x preço”, dependendo da ocasião.
“CUSTO X BENEFÍCIO”
Na minha opinião, esse conceito se aplica quando não podemos ou não desejamos investir muito. Buscamos um vinho com bom “custo x benefício” quando queremos gastar pouco e dentro deste limite orçamentário obter o melhor possível naquele momento. Se aplica perfeitamente quando desejamos um vinho despretensioso para beber com amigos numa reunião ou numa festa com público heterogêneo, composto por pessoas com diferentes expectativas em relação à bebida. Também se aplica aos momentos em que o vinho é um simples coadjuvante, um mero acompanhamento para uma refeição ou um bate-papo. São também interessantes para os iniciantes conhecerem novos estilos de vinhos e regiões produtoras diferentes, obtendo o melhor possível dentro da sua faixa de consumo.
Aqui se enquadram perfeitamente os vinhos do projeto #vinhoparatodos que desenvolvi em parceria com Joana Rangel do blog Divina e Vinho e Sabrina Trézze do Villa Vinífera, no qual buscávamos garimpar bons vinhos com bom “custo x benefício”. Conheça o projeto #vinhoparatodos clicando AQUI. Ou no Instagram e Facebook através da hashtag #vinhoparatodosoficial. Mas cuidado com os fakes, há muita gente que nos plagiou!
“QUALIDADE X PREÇO”
Nesse conceito o que está em primeiro plano é a qualidade e, devido ao destaque deste atributo, o preço praticado passa a ser considerado interessante. Ou seja, pelo vinho que é, pela qualidade que possui, o preço é bom. Imagine uma ocasião especial ou um jantar para grupo de amigos que apreciam muito o vinho e este será o protagonista da noite, até mais importante que o prato principal. Você escolheria um vinho com bom “custo x benefício” ou com boa “qualidade x preço”? Nos momentos nos quais você busca se deliciar, obter prazer e compartilhar experiências, certamente não há como mensurar o benefício, já que a qualidade estará sempre em primeiro lugar.
Na relação “qualidade x preço” acho que a indicação é mais subjetiva. Vejam só, o segundo vinho de um grande produtor de Bordeaux, não é barato, mas frente ao seu irmão, o primeiro vinho do Chateau, passa a ser uma opção com ótima relação “qualidade x preço”. O Le Petit Cheval, segundo vinho do mítico Cheval Blanc, pode ser encontrado no exterior, dependendo da safra, por uns 100 euros, que corresponde em média 1/4 a 1/5 do preço do seu principal vinho. Na mesma linha, um Pavillon Rouge, segundo vinho do cultuado Chateau Margaux, pode custar em torno de 150 euros, ou seja, pode corresponder facilmente a 10 vezes menos que o grand vin desse chateau. Mesma analogia pode valer, por exemplo, para o Les Fort de Latour, segundo vinho do famoso Chateau Latour.

Vários grandes produtores do Douro também possuem segundos vinhos de respeito: Pó de Poeira da Quinta da Poeira, Meandro da Quinta do Vale Meão, Pintas Character da Wine & Soul… Sem falar no Ferreirinha Reserva Especial, irmão do lendário Barca Velha! No novo mundo, que tal o EPU da Almaviva? Ou Sideral que é o caçula do Altair? E o Le Petit Clos da Clos Apalta?
Pense que o jogador que é reserva de um grande clube como o Flamengo, Liverpool Barcelona ou Real Madrid, seria certamente titular em centenas de clubes!
Voltando para a realidade do nosso mercado, por exemplo, um elegante vinho do Douro ou um alentejano bem estruturado por R$ 180,00, um espumante brazuca da mais alta qualidade por R$140,00, um classudo Bordeaux Supérieur por R$ 180,00, um branco siciliano de pequeno produtor orgânico por R$ 120,00 ou um redondo malbec argentino por R$ 150,00, podem ser considerados, dependendo dos vinhos, produtos com uma ótima relação “qualidade x preço”. Por outro lado, dificilmente um prosecco italiano de R$ 50,00 poderia, na minha opinião, ser considerado um vinho com boa relação “qualidade x preço”, já que, neste caso, provavelmente, a qualidade ficaria bem prejudicada.
Trocando em miúdos:
- No vinho com boa relação “custo x benefício”, o que rege o conceito é o preço. Espera-se um vinho legal, mas acima de tudo econômico.
- No vinho com boa relação “qualidade x preço”, o que rege o conceito é a qualidade. Espera-se um bom vinho que ofereça mais pelo preço praticado.
E você? Está de acordo com as ideias acima para o universo do vinho? Concorda que há como aplicar os dois conceitos, dependendo da ocasião? Busca vinhos com bom “custo x benefício” ou com boa “qualidade x preço”? Abra uma ampola e faça a sua reflexão.
Para quem for ou estiver nos EUA, indico:
- 3 cabernets com ótima relação “custo x benefício”: Ótimos cabernets na faixa de 10 dólares nos EUA
- 2 Pinots com ótima relação “qualidade x preço”: Dois excelentes Pinots Californianos.
E veja também sobre ótima relação “qualidade x preço” os posts abaixo:
1 Comment
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Olá Fernando, ótima a sua abordagem! Esse é um bom começo para buscarmos expressões que reflitam melhor o conceito de boa compras e a busca de prazer e alegria no mundo do vinho! Cheers!