Alvarinho, a jóia do Minho!

Já falamos da região dos Vinhos Verdes no Minho, mas propositalmente deixei para tratar do Alvarinho de forma separada e exclusiva, por ser um caso especial no universo dos Vinhos Verdes. Utilizada originalmente na forma de cortes com outras castas, tais como Loureiro e Trajadura, o Alvarinho alcança sua melhor expressão quando a uva aparece sozinha, em vinhos varietais. O Alvarinho destaca-se de tal maneira dos demais vinhos verdes que, quando um vinho é feito 100% com esta casta, seu nome é estampado no rótulo e praticamente ofusca o gênero vinho verde. Além disso, fora a turística Rota dos Vinhos Verdes, na região há a específica Rota do Alvarinho.
A Alvarinho é uma das mais nobres das castas brancas portuguesas e produz um vinho encantador, elegante, de elevadíssima qualidade, com muito frescor e estrutura. No nariz, revela aromas intensos, agradáveis e complexos com notas cítricas, passando algumas vezes por discretos aromas de mel e pêssego. Na boca é equilibrado e persistente. Pode ser produzido com ou sem passagem por barricas de carvalho.
Abaixo alguns Alvarinhos portugueses que já passaram pela minha taça ao longo dos anos:


Pelas ampolas acima, vemos que a Alvarinho é cultivada em quase todo o território português, mas é na Região dos Vinhos Verdes no Minho, especificamente nas sub-regiões de Monção e de Melgaço, que têm uma relação umbilical com esta casta, que a Alvarinho brilha, se revelando e atingindo o máximo da sua potencialidade.
Aliás, é altamente recomendado para aqueles que pretendem conhecer a fundo a Alvarinho, visitar as vilas de Monção e de Melgaço. Elas ficam próximas uma da outra, bem ao norte, junto ao Rio Minho que faz a fronteira natural com a Espanha. A Rota do Alvarinho passa por diversas vinícolas, pousadas de charmes, vilas históricas, museus e restaurantes.

Na zona histórica da vila de Melgaço, junto ao castelo, há o Solar do Alvarinho e na Vila de Monção, na praça, há o Paço do Alvarinho. Ambos são locais destinado à divulgação e promoção do Alvarinho, sendo possível degustar diversos rótulos de produtores de suas respectivas sub-regiões, obter informações e comprar vinhos. O Solar e o Paço do Alvarinho são verdadeiros templos dedicados a esta espetacular casta!




Em Monção, há ainda o magnífico Palácio da Brejoeira, que produz o clássico Alvarinho que leva o seu nome e também merece uma visita. O interior do palácio é muito bonito e os jardins são imperdíveis.


Abaixo dois Alvarinhos mais estruturados, com passagem em madeira que considero entre os melhores de Portugal.
1) Muros de Melgaço, produzido pelo enólogo Anselmo Mendes, um craque em Alvarinho. Acompanho este vinho há várias safras e nunca me decepcionou. Faz estágio em barricas de carvalho francês por 6 meses. O produtor também possui outros alvarinhos interessantes em sua linha, como o Expressões, além de outros com muito mais frescor, pois somente passam por tanques de inox, como o Muros Antigos.

2) Soalheiro Reserva. Conhecido produtor de Melgaço. Possui também em sua linha outros alvarinhos que passam somente por tanques de inox.
Saindo um pouco de Portugal, a Alvarinho, do outro lado do Minho, na Galícia (Espanha), é chamada de Albariño. Lá também são produzidos vinhos fantásticos na Denominação de Origem de Rías Baixas. Destaco o Pazo das Bruxas, Gran Vino Pazo Barrantes e Señorans Selección de Añada, que estão entre os melhore vinhos espanhóis feitos com esta casta que já bebi.

E por falar em Albariños, na América do Sul, o Uruguai tem se destacando nesta casta. A vinícola Bouza, perto de Montevidéu, já produz há algum tempo um rótulo muito bom da casta. E próximo a Punta del Este, a Bodega Garzón possui dois exemplares também de alta qualidade: o caprichado Albariño Single Vineyards; e o também agradável, porém menos complexo, Albariño Reserva. Na Argentina, provei o Las Perdices e gostei do seu frescor e do seu preço.


Como fã da casta, recentemente, provei uns Albarinõs bem legais na Califórnia, sendo que o que mais me marcou foi o da vinícola Verdad que possui certificação biodinâmica, utiliza para este vinho uvas provenientes de Edna Valley e trabalha com produção limitadíssima. Mas, isso será papo para posts futuros….
E aqui? Yes, nós temos alvarinho! No Brasil, os pioneros foram o Quinta do Seival Alvarinho da Miolo na Campanha ;e o Matiz Alvarinho da Hermann, também elaborado com uvas do RS, só que este da Serra do Sudeste. Atualmente Miolo e Hermann com a casta, produzem respectivamente: Single Vineyard Alvarinho e Alvarinho Jovem Adolar Hermann.

Interessante Alvarinho da Miolo da linha Single Vineyard cultivado na Campanha

E para fechar, uma historinha, pois vinho também é cultura. No mercado brasileiro há um alvarinho bem conhecido que chama-se Deu La Deu, vale contar que esse nome é uma homenagem a Sra. Deu-la-Deu Martins, personagem lendária de Monção, a qual lhe é atribuído o feito de ter enganado os espanhóis durante uma batalha, nas guerras fernandinas, entre D. Fernando I, rei de Portugal, com D. Henrique II de Castilla, Espanha. Reza a lenda que se aproveitando da ausência do capitão-mor de Monção, marido da Sra. Deu-la-Deu, um poderoso exército galego pôs um cerco a Monção. A vila foi resistindo sob o comando da Sra. Deu-la-Deu, mas a escassez de alimentos era desesperadora e os invasores também já estavam sem provisões e passando fome. Foi então que a Sra. Deu-la-Deu mandou fazer alguns pães da pouca farinha que ainda restava, subiu à muralha e atirou-os ao exército sitiante, dizendo-lhes que as provisões abundavam na cidade e que, dada a duração do cerco, os galegos poderiam precisar de alimento. Ela teria dito ao final algo com: “Deus lo deu, Deus lo há dado”. O inimigo também faminto, decidiu bater em retirada, pois acreditou que na fortaleza reinava a fartura e jamais haveria uma rendição. Fato é que há uma estátua na praça de Monção em homenagem a esta senhora e o brasão da cidade ostenta a imagem de uma mulher distribuindo pão.

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Em 06/12/2015, o Alvarinho já foi objeto da coluna Boas Taças que escrevia para o jornal carioca O Sol.
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