Conhecendo o Dão e seus elegantes vinhos
Há algum tempo ouvimos que a região do Dão é responsável pela elaboração de vinhos extremamente elegantes, quiçá os mais de Portugal! Mas o que significa isso? E seria verdade? Considerando o sentido lato sensu da palavra e especificamente analisando o quesito harmonia, sem dúvida, os melhores vinhos do Dão apresentam corpo, taninos, álcool e acidez em perfeito equilíbrio, onde nenhum destes elementos desbalanceia o outro. Este equilíbrio e harmonia caracterizam a elegância de um vinho. Além disso, são produtos de alta qualidade e com grande potencial de evolução, entretanto a região e seus vinhos ainda são pouco explorados pelos brasileiros.
A Região Demarcada do Dão foi instituída em 1908 e está localizada no centro-norte de Portugal entre os rios Mondego e Dão, numa zona montanhosa, cercada pela Serra da Nave, Serra do Caramulo que a protege do Oceano Atlântico e a Serra da Estrela no sudeste. O solo é granítico, os invernos são frios e úmidos; e os verões quentes e secos, proporcionando condições adequadas para elaboração de vinhos de qualidade. E foi justamente no inverno que lá estive!
AS PRINCIPAIS CASTAS
São produzidos vinhos de corte e varietais. Diversas castas são autorizadas na produção de vinhos no Dão, dentre as tintas mais utilizadas estão:
- jaen. É a mais plantada. É conhecida como mencía na região de Bierzo na Espanha.
- touriga nacional. A 2ª mais plantada e para muitos, o Dão é a região em Portugal onde ela melhor se expressa.
- tinta roriz. A 3ª mais plantada. Conhecida como aragonês no sul do país e tempranillo na Espanha; e
- alfrocheiro. Contribui com cor nos cortes que participa, aparecendo também em varietais
Também há cultivo de bastardo, tinto-cão, trincadeira…
Várias uvas brancas são permitidas, mas a que merece destaque especial é a minha queridinha encruzado com a qual é possível elaborar vinhos maravilhosos, de diferentes estilos, desde os mais ligeiros até aqueles brancos mais encorpados e estruturados, comparáveis aos grandes chardonnays da Borgonha. Ela pode se beneficiar da madeira (tanto na fermentação quanto no envelhecimento), além do contato mais prolongado com as borras (com bâtonnage).
Outras castas brancas cultivadas no Dão: bical, arinto, malvasia, rabo de ovelha, verdejo…
OS VINHOS DO DÃO
Nas décadas de 50-70 a produção de vinhos no Dão era dominada por cooperativas que tinham o direito exclusivo de adquirir uvas para vinificação, sendo que outros empreendedores só possuíam permissão legal para aquisição de vinhos já prontos, comprometendo a qualidade e gerando vinhos que possuíam praticamente um estilo padronizado. Essa política só mudou no final dos anos 80 com a entrada de Portugal na comunidade européia.
Atualmente há na região grandes grupos como a GLOBAL WINES (Quinta de Cabriz, Casa de Santar…) e a SOGRAPE (Quinta dos Carvalhais), além de diversos produtores de médio e pequeno porte que produzem vinhos de alta qualidade. Muitos podem ser encontrados no Brasil.
Atraídos pela possibilidade de elaborar vinhos de alta qualidade no Dão, produtores renomados do Douro passaram a produzir vinhos na região, entre eles Dirk Niepoort que adquiriu a Quinta da Lomba, e o projeto M.O.B, cujo nome refere-se às iniciais dos enólogos Jorge Moreira da Quinta da Poeira, Francisco Olazabal da Quinta do Vale Meão e Jorge Borges da Wines & Soul-Pintas.
TURISTANDO
Minha base foi na Casa da Ínsua, palácio barroco do século XVIII que faz parte da cadeia espanhola chamada Paradores, na qual a maioria das hospedagens geralmente encontra-se em locais de valor histórico recuperados e adaptados, tais como casarões, conventos, mosteiros e palácios.
A Casa da Ínsua faz parte da Rota dos Vinhos do Dão, produzindo bons vinhos e o cultuado Queijo Serra da Estrela. O Queijo Serra da Estrela é feito com leite de ovelha e tal qual os vinhos, tem DOP (denominação de origem protegida), sujeito portanto a normas rígidas de produção. Os de massa mais mole são os que mais gosto.
Outra dica que recomendo é almoçar no Paço dos Cunhas de Santar harmonizando com seus vinhos, pois é uma experiência imperdível, tanto que foi objeto de post específico aqui no Blog (saiba como foi clicando AQUI).
A principal cidade da região é a bela Viseu que merece ser visitada, mas desta vez exploramos sítios (como dizem os portugueses) menores, como a pitoresca vila de Nelas, onde há uma estátua homenageando a profissão de sommelier, que em Portugal se chama escanção. A estátua foi inaugurada em 1966, inspirada no Sr. Fernando Ferramentas, que na época trabalhava no Hotel Aviz em Lisboa. Você já ouvi falar da existência de outra estátua no mundo para homenagear o responsável pelo nobre serviço do vinho? Eu, nunca. Só no Dão.
E foi justamente nos “arredores” de Nelas que visitei a vinícola Caminhos Cruzados, mas isso é papo para outro post…
EPÍLOGO
Feira de vinhos do Dão que fui no WOW em Portugal e e alguns dos vinhos que degustei:
8 Comments
Entre na discussão.
Bela matéria Fernando. Grandes vinhos brancos e tintos são produzidos no Dão e devem ser conhecidos!!! 🍷🍷🍷
Muito obrigado, caro Túlio. Exatamente isso! Grande abraço.
Amigooo, que legal essa viagem e tantos conhecimentos!
Parabéns pelo seu dia!🍷🍾
Amando conhecer de vinhos e com um amigo de infância querido melhor ainda!
Beijão
Que lega Anna! Fico feliz em saber! Muito obrigado pelas carinhosas palavras e incentivo! Bjs.
Parabéns Fernando, conheço os vinhos e o produtor da Casa de Mouraz. Orgânicos e Biodinâmicos. Vinhos maravilhosos.
Se quiseres posso te passar o contato.
O Dão é fantástico
Abraço
Caro Renô, Obrigado. Fique à vontade para passar contatos através do email contato@vinhoscomfernandolima.com.br. Grande abraço.
Excelente como sempre meu caro amigo. Ano passado fiz o Douro a cada vez que vou volto mais apaixonado pelos vinhos e pelas terras da minha segunda pátria. Na próxima vez que for tentarei fazer a rota do Dão mas ante converso contigo. Parabéns
Caro José Luiz, fico feliz que tenha gostado. Os vinhos portugueses e suas regiões produtoras nos fazem querer voltar sempre! Terei prazer em ajudá-lo no seu próximo roteiro! Grande abraço.