Este post foi motivado pelo poético tema deste semestre do nosso Grupo de Degustação da ABS-Rio que é “Castas maravilhosas que muitas vezes não damos a devida atenção e carinho!” E a marselan se encaixa perfeitamente no tema, tanto que foi uma das escolhidas, protagonizando nosso último encontro, no qual degustamos às cegas 3 vinhos elaborados com a casta.

Lembrando que às cegas os participantes estão desprovidos de qualquer preconceito com relação ao vinho/casta  que irão degustar, sendo que a opinião resultante será baseada apenas no líquido que está sendo degustado sem levar em conta qualquer conhecimento, experiência ou expectativa prévia existente com relação ao vinho, produtor, região ou até mesmo ao país da bebida objeto da degustação.  Para saber mais sobre degustação às cegas, clique AQUI. Ou seja, ninguém sabia que estava degustando vinhos elaborados com a marselan!

A marselan não é uma casta existente originalmente na natureza. Ela foi criada pelo homem. É resultante do cruzamento da grenache/garnacha com a cabernet sauvignon desenvolvido pelo ampelógrafo francês Paul Truel, na década de 60. Seu nome foi inspirado na cidade de Marseillan, onde se localiza o renomado instituto de pesquisa INRA (Institut national de la recherche agronomique), onde Truel trabalhava.

Cruzamento x Híbrida x Clone, só para lembrar:

• Cruzamento é quando uma nova variedade de uva é produzida a partir de 2 plantas mães da mesma espécie, sendo geralmente, as duas  da espécie vitis vinífera;
• Uva Híbrida é aquela proveniente de  videira cujas plantas mães provêm de 2 espécies de videiras diferentes, uma vitis vinifera e a outra americana; e
• Clone é aquela casta que sofreu mutação, ou seja, uma variação genética, mas que continua pertencendo a mesma casta da original.

E por que o homem faz cruzamento de castas?

Para buscar uma planta mais vigorosa, mais resistente a fungos e mais produtiva. A natureza faz cruzamentos aleatórios ao longo de séculos, mas seu objetivo não é obter uma casta “melhor” para fazer vinho. Um exemplo de cruzamento natural é a cabernet sauvignon (que é resultado do cruzamento natural de cabernet franc + sauvignon blanc). Exemplos de cruzamentos feitos pelo homem, que de fato são utilizados em escala, são a pinotage (pinot noir + hermitage/cinsault), alicante bouschet (grenache + petit bouschet) e a marselan!

A marselan se saiu muito bem, cruzou as fronteiras da França e definitivamente conquistou o novo mundo. Aparece em varietais e cortes nos EUA, Israel, China, Brasil e Uruguai. Até a Jancis Robinson menciona o Brasil quando se refere a marselan na 4ª edição de sua bíblia, The Oxford Companion to Wine:

Curiosidades :

1) para a galera da saúde, segundo pesquisa mencionada no site Wine Folly, as uvas tannat, sagrantino, nebbiolo e marselan são as que possuem as maiores concentrações de polifenóis, chegando a ter o dobro da concentração encontrada na merlot e na cabernet sauvignon,

2) junto com a alvarinho e a touriga nacional, a marselan faz parte das castas que foram autorizadas a compor os vinhos Bordeaux e Bordeaux Superiéur.

3) spoiler: em breve teremos vinhos elaborados com a marselan no Rio de Janeiro! Aguardem.

MINHA EXPERIÊNCIA COM A MARSELAN

Outros varietais brazucas que já provei.

No Brasil também já provei cortes gaúchos nos quais a marselan faz parte de forma expressiva. Entre eles tenho boas recordações do INDRA 2018 da Vallontano, que possui 20% de marselan e do Viapiana Barricas Selecionada Lote III com 14% de marselan:

Em SC também gostei de conhecer o INNOMINABLE Lote VIII da Villaggio Grando, que é um corte de safras e castas do qual a marselan faz parte.

No Uruguai a marselan há tempos se destaca e por aqui encontramos boa oferta de exemplares elaborados no país vizinho:

Por fim , segue um israelense que também tenho boas recordações:

Ou seja, o que não falta no imenso universo do vinho são castas para explorarmos…

E para os curiosos que chegaram ao final do post, os vinhos que degustamos às cegas na ABS-Rio foram:

E vamos diversificar!

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