O Vasto Alentejo

Este mês eu estive na feira Vinhos do Alentejo realizada no Rio de Janeiro, que ocorreu também em Porto Alegre, Vitória e São Paulo. Lá tive a oportunidade de degustar alguns bons vinhos de alta qualidade e características singulares.
Para entender esses vinhos é interessante primeiro conhecer a vasta região alentejana, que fica no sul de Portugal e é formada predominantemente por planícies. Possui clima quente e seco e constitui uma das maiores regiões vitivinícolas do país. A história do vinho no Alentejo é milenar, havendo registros desde antes da presença dos romanos, que foram os grandes responsáveis por desenvolver a cultura do vinho na região. Até algumas décadas atrás, mesmo tendo enorme potencial, a produção de vinhos tinha importância reduzida e destinava-se somente ao consumo interno. Utilizavam-se processos tradicionais herdados dos romanos, como a fermentação realizada em grandes talhas de barro. Somente após a entrada de Portugal na UE, a enologia da região deu seu grande salto em direção à modernidade, se beneficiando da ajuda financeira do bloco econômico e conquistando relevância no cenário mundial.

A produção se divide entre Vinho Regional Alentejano e DOC Alentejo, esta última composta por oito subdivisões: Évora, Reguengos, Borba, Redondo, Vidigueira, Granja-Amareleja, Portalegre e Moura.
Alguns produtores optam por utilizar a designação de vinho regional alentejano, pois esta permite a utilização de outras castas, além das previstas na legislação de vinhos DOC.
E falando em castas, no Alentejo há várias plantadas, sendo que as brancas portuguesas mais importantes são a Arinto, Antão Vaz, Fernão Pires e Roupeiro. Entre as brancas estrangeiras, encontramos viognier, verdelho e chardonnay. Normalmente as castas são utilizadas em cortes (vinhos feitos com mais de uma uva), mas encontramos também muitos varietais (vinhos feitos com uma só uva) ou monocastas como os portugueses chamam. Os brancos alentejanos normalmente são vinhos vibrantes, aromáticos, marcados por uma agradável acidez e ótimo frescor.

As tintas mais importantes são touriga nacional, trincadeira, alfrocheiro, aragonez (conhecida como tinta roriz no Douro e tempranillo na Espanha), castelão e alicante bouschet (uva francesa que praticamente se naturalizou como alentejana). As estrangeiras tintas mais encontradas são petit verdot, cabernet sauvignon e syrah, sendo que esta é considerada a “forasteira” que melhor se adaptou ao clima quente do Alentejo. Geralmente os tintos são produzidos com cortes de várias uvas, mas são também encontrados na forma de varietais ou monocastas, principalmente syrah, touriga nacional e alicante bouschet. Normalmente, os tintos alentejanos são vinhos bem gastronômicos, encorpados e frutados.

O Alentejo também é a terra das oliveiras e lá são produzidos fabulosos azeites. Outra árvore predominante na região é o sobreiro, de onde se extrai de sua casca a cortiça para fabricação das rolhas do vinho.
A região é extensa e possui diversas vinícolas abertas para visitação e com ótima estrutura para o turismo. As maiores propriedades são chamadas de herdades e as menores, de quintas. Gosto de utilizar como base a cidade de Évora, considerada patrimônio mundial da humanidade pela UNESCO. Lá no seu centro histórico está localizado o escritório da Rota dos Vinhos do Alentejo, onde são oferecidas provas de vinhos e podem ser adquiridos mapas, roteiros e informações.
Nos arredores da cidade é possível visitar a Adega da Cartuxa, que produz o famoso Pêra-Manca, que, reza a lenda, foi o vinho que Pedro Álvares Cabral transportou em suas caravelas quando chegou ao Brasil!


Perto de Évora fica a bela Estremoz e lá pode-se visitar a Quinta do Mouro e seguir para a Quinta de Dona Maria. Todas produzem ótimos vinhos. Imperdível é visitar a belíssima vila de Monsaraz e depois passar na Herdade do Esporão, provar seus vinhos e almoçar no seu excelente restaurante. Encerro com a boa notícia de que os vinhos alentejanos são facilmente encontrados no Brasil e normalmente acessíveis ao nosso bolso!



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O Alentejo foi tema da coluna Boas Taças de 18/09/2015 que escrevia para o jornal carioca O Sol.
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