Vinho e Cinema são dois hobbies que adoro e acredito que muitos também. A presença do vinho e de temas correlatos nos filmes tem sido cada vez mais constante e há produções capazes de agradar a todos os gostos, entretendo não só os iniciados, mas também os iniciantes e curiosos do universo do vinho.  A lista obviamente não é exaustiva, assim, abaixo só estão listados filmes que assisti.  Eles estão apresentados na ordem cronológica decrescente conforme o ano de produção, com exceção de Sideways que vem em primeiro, pois se tivesse que dar o Oscar do Vinho para um filme, não teria dúvidas que seria para ele!

Sideways – Entre Umas e Outras (EUA, 2004)

Baseado no livro homônimo de Rex Pickett, é sem dúvida o filme mais conhecido e praticamente obrigatório para os amantes do vinho. Recebeu 5 indicações ao Oscar, inclusive a de melhor filme, e ganhou o de melhor roteiro adaptado. Dirigido por Alexander Payne, enquadra-se no gênero comédia dramática e narra a viagem de dois amigos por vinícolas da Califórnia, especificamente de Santa Barbara, durante a despedida de solteiro de um deles. O filme é praticamente uma ode à pinot noir, já que Miles, o personagem interpretado por Paul Giammati, é profundo conhecedor e um apaixonado por esta casta. O filme foi responsável pelo aumento na procura por vinhos feitos com pinot noir nos EUA, como também pela queda nas vendas dos Merlots, pois esta cepa é achincalhada pelo personagem de Giammati.

Em resposta, os produtores americanos de merlot produziram o documentário Merlove (EUA, 2008), que celebra e enaltece a casta que foi injustamente criticada.

Em 2010 foi publicado o livro Vertical, também de Rex Pickett, que é a sequência de Sideways. A história se passa sete anos após os acontecimentos narrados no livro anterior e agora Miles parte com seu amigo numa roadtrip rumo ao Willamette Valley no Oregon, reino americano da pinot noir, onde Miles foi convidado para ser o mestre de cerimônias  do International Pinot Noir Celebration Festival. Miles agora é um escritor famoso, cujo livro virou um filme de sucesso. Mesmo a Foxlight tendo os direitos sobre os personagens, o diretor Alexander Payne não se interessou pelo projeto.

Para quem  quiser saber mais sobre os lugares que foram cenários  do filme, recomendo ler  o post Roteiro Sideways em Santa Barbara Wine Country, no qual visito alguns restaurantes e vinícolas retratadas no filme.  E se você curte a  pinot noir, tal qual Miles, veja o post: A Pinot Noir além do seu reino

Combinação Perfeita (A Perfect Pairing AUS 2022)

Filme romântico e despretensioso no melhor estilo sessão da tarde. Ambiciosa executiva de uma grande importadora de vinhos viaja de Los Angeles para o interior da Austrália atrás de importante cliente/produtor para incluir no seu portfólio. A tradução mais correta do título seria “Uma harmonização perfeita”.  Disponível gratuitamente no NETFLIX.

Vinho & Guerra (Wine & War ENG/LEB 2021)

Não confundir com o clássico livro Vinho & Guerra de Don e Petie Kladstrup. Este documentário narra a resiliência e o espírito empreendedor dos produtores de vinho no Líbano diante de todas as adversidades em que, durante décadas, trabalharam na guerra, na fome, na ocupação e no constante desafio da instabilidade política. O documentário mostra também a milenar história da vitivinicultura na região. Inspirado no livro “Wines of  Lebanon” de Michael Karam. Disponível na Apple TV.

Vinícola dos Sonhos (Fron the Vine – ITA/CAN 2021)

Filme cansativo e artificial que narra a trajetória de um executivo (Joe Pantoliano) em crise existencial que larga tudo no Canadá e retorna a sua cidade natal no sul da Itália para produzir vinhos na propriedade que pertenceu ao seu falecido avô. Demora a engrenar e na verdade nem engrena. Referências discretas a casta aglianico, a região da Basilicata e a DOC Aglianico del Volture  que no filme é tratada en passant como uma DOCG.  Lançamento da Claro/Net.

Legado Italiano (BRA 2020)

Documentário emocionante e muito bacana sobre a imigração italiana, especificamente a colonização na Serra Gaúcha e o seu desenvolvimento impulsionado pela vitivinicultura! Documentário original NETFLIX.

Notas de Rebeldia (Uncorked – EUA 2020)

Interessante abordagem sobre o conflito vivido por um jovem dividido entre perseguir seu sonho e corresponder às expectativas do seu pai.  Boas interpretações ao som de hip hop num filme dinâmico e leve, mas que consegue transmitir com densidade a angústia do personagem que quer se tornar um master sommelier ao invés de assumir a “churrascaria’ da familia.  Filme original NETFLIX.

Entre Vinho e Vinagre (Wine County – EUA 2019)

Achei que o filme ficou mais para o vinagre mesmo. Considerando o elenco, o cenário e a temática, confesso que  fiquei frustrado e bem decepcionado com o resultado deste original da NETFLIX.  Amigas de longa data viajam para os vinhedos do Napa Valley para comemorarem o aniversário de 50 anos de uma delas. Só que nada acontece, mas independente disso, ainda poderia ser bom. Na minha opinião faltou corpo, persistência e complexidade, se revelando ao final demasiadamente cansativo.  Conheça mais sobre o Napa clicando AQUI.

Uvas Amargas ($our Grapes – EUA 2016)

Documentário que conta a surpreendente história do maior fraudador de vinhos de todos os tempos.  Mais detalhes no post: Rudy Kurniawan: o maior 171 dos vinhos!

Sobre Amigos, Amor & Vinhos (Barbecue – FRA, 2014)

Divertida comédia sobre um grupo de amigos, onde o vinho participa como coadjuvante, mas há hilárias situações que envolvem a bebida e que não passarão despercebidas pelos enófilos, entre elas uma impagável com o mítico Château Pétrus e outra mais discreta envolvendo Beaujolais.

Um Ano em Champagne (EUA/FRA,2014)

 Um Ano na Borgonha (EUA/FRA, 2013)

Dois documentários muito interessantes e essenciais para o apreciador de vinhos. Ambos retratam a vida de produtores da região durante um ano, passando por todas as estações. A Year in Port de 2016 fecha a trilogia, mas este, infelizmente eu ainda não assisti.

 Vino para Robar (ARG, 2013)

Dois ladrões precisam trabalhar juntos para roubar um malbec raro e valioso que está bem guardado em Mendoza. Comédia que satiriza filmes como Missão Impossível e 11 Homens e um Segredo.

Red Obsession (EUA, 2013)

Documentário narrado por Russel Crowe que mostra a crescente voracidade e obsessão dos chineses por vinhos franceses, especialmente os de Bordeaux. A preocupação dos produtores franceses com o ávido mercado chinês também é apresentada.

 Somm (EUA, 2013)

Documentário que acompanha a vida de quatro profissionais que tentam passar numa difícil prova para obter o título de master sommelier. Teve 2 sequências: Somm: into the bottle (2015)  e Somm 3 (2018).

 Bottle Shock – O Julgamento de Paris (EUA, 2008)

Baseado em fatos reais, retrata de forma romantizada, com alguns momentos cômicos, a histórica competição internacional de 1972, na qual os vinhos californianos venceram os grandes franceses em degustação às cegas. O filme mostra os primórdios da indústria de vinhos no Napa Valley. Para quem quiser saber um pouco mais desta história, recomendo o post O Napa Valley e os vinhos do Julgamento de Paris, no qual conto um pouco sobre a minha visita a estas premiadas vinícolas californianas.

Um Bom Ano (EUA, 2006)

Dirigido por Ridley Scott e estrelado por Russel Crowe, que faz o papel de um londrino que trabalha no mercado financeiro e se vê obrigado a voltar para um château na França, onde passou sua infância, após herdá-lo de seu tio.

 Mondovino (FRA/ITA/ARG, 2004)

Excelente documentário, bastante crítico, dirigido por Jonathan Nossitier, que também é sommelier e já assinou cartas de diversos restaurantes em Nova Iorque, Paris e Rio de Janeiro. O filme trata da globalização na indústria do vinho. Mostra a luta de pequenos produtores do velho mundo para se manterem fiéis às suas tradições ao invés de se renderem ao gosto do mercado americano e seus críticos especializados.

Conto de Outono (Conde d’automne – FRA, 1998)

 Romance que se passa no sul da França, onde a protagonista produz vinhos. Ela é viúva, vive sozinha e suas amigas resolvem encontrar um novo marido para ela. O filme encerra o projeto do diretor Eric Rohmer de realizar um filme ambientado em cada estação do ano.

Caminhando nas Nuvens (EUA, 1995)

Filme romântico, no melhor estilo água-com-açúcar. Estrelado por Keanu Reeves, a história se passa no pós guerra dos anos 40 e tem como cenário os belos vinhedos californianos.

A querida sommelière Deise Novakoski gentilmente enriqueceu esta resenha enviando seus valiosos comentários que a seguir transcrevo:

“Neste filme por exemplo: os vinhedos californianos podem ter servido como cenário, mas durante todo o tempo eles se referem a vinhedos franceses. Mesmo por que no pós Guerra nos anos de 1940 a Califórnia nem sonhava em fazer vinhos finos com tantos cuidados. A produção californiana começa a ser retomar a partir dos anos 1970, tendo sido tão longo o período que ficaram sem produzir vinhos finos de qualidade, que ficaram sem referencia bibliográfica.  Abaixo envio uma imagem dos vinhedos da Borgonha à noite sendo aquecidos com barris por conta da geada (…).  Técnica desenvolvida pelos franceses e que no filme aparece em cena simpática, quando todos acordam vestem asas de libélula e saem para espalhar calor vindo destes barris para os vinhedos. O desajeitado personagem de Reeves, consegue incendiar uma de suas asas postiças, entre todos os foras que ele dá para desespero da mocinha , que o está apresentando ao pai. Um vigron muito gente boa que se faz de mal humorado.  A técnica ainda é usada em toda a França”. 

 

Muralhas do Pavor (Tales of  Terror. EUA, 1962)

Dirigido por Roger Corman, mestre do horror, o filme é composto por três histórias independentes, adaptadas de contos clássicos  de Edgar Alan Poe. A segunda é uma mistura de dois clássico do autor: Gato Preto e o Barril de Amotillado, na qual há a antológica cena onde o bêbado interpretado por Peter Lorre desafia, numa degustação, o connoisseur  esnobe interpretado por Vincent Price.

Agora é só escolher o filme, sentar-se no sofá com uma boa ampola e uma ótima companhia!

Vinho no cinema já foi tema de duas colunas Boas Taças que escrevi para o Jornal O Sol, que foram publicadas nas edições de 05 setembro de 2015 e 21 de julho de 2016.