Os vinhos da Península de Setúbal
Ontem ocorreu no Rio mais uma edição da Prova dos Vinhos da Península de Setúbal, evento que contou com a participação de diversos produtores da região que apresentaram seus vinhos ao público carioca. Produtores presentes: Adega Camolas, CW Comporta Wines, Brejinho da Costa, Venâncio da Costa, Cooperativa Agrícola Santo Isidro de Pegões, António Saramago Vinhos, Casa Ermelinda Freitas, Sociedade Vinícola de Palmela (SIVIPA), Quinta do Piloto e Filipe Palhoça. Alguns destes, não possuem representação no Brasil.
A Península de Setúbal fica localizada ao sul de Lisboa, rodeada pelo Atlântico e pelos rios Tejo e Sado.
Os vinhos da região podem ser provenientes de uma de suas duas denominações de origem (DO Setúbal ou DO Palmela) ou simplesmente trazer no rótulo a indicação geográfica IG Península do Setúbal que também é conhecida como Vinho Regional da Península de Setúbal.
Na Península de Setúbal são produzidos vinhos tintos, brancos e espumantes, além dos famosos vinhos licorosos ou, como também são conhecidos, vinhos generosos, que são provenientes da DO Setúbal. Estes vinhos possuem maior concentração de açúcares e são considerados vinhos fortificados, tais quais os vinhos do Porto e da Madeira, pois possuem elevado teor alcoólico. São normalmente servidos como aperitivos ou digestivos.
O Moscatel de Setúbal e o Moscatel Roxo
Existem dois tipos de vinhos generosos com direito à denominação de origem controlada Setúbal (DO Setúbal): o produzido com castas brancas, onde a casta Moscatel de Setúbal está obrigatoriamente presente numa percentagem igual ou superior a 67%, e o produzido com castas tintas, onde a casta Moscatel Roxo está presente com uma percentagem mínima de 67%. As designações tradicionais “Moscatel de Setúbal”, “Moscatel Roxo” ou “Roxo” só podem ser usadas quando estas castas contribuam com, pelo menos, 85% do mosto utilizado.
São verdadeiros néctares portugueses! Abaixo alguns ótimos vinhos generosos que degustei no evento:
HISTÓRIA DA REGIÃO
• Escavações arqueológicas encontraram artefatos que evidenciaram a cultura da vinha na região cerca de 2000 anos a.c. pelos tartéssos, período muito anterior à formação de Portugal e até mesmo à presença dos fenícios na região, que séculos depois impulsionaram a produção do vinho.
• Os gregos e em seguida os romanos, que ocuparam definitivamente a Península poucos anos a.c, contribuíram expressivamente com o aumento da cultura das vinhas e a introdução de técnicas de cultivo.
• A ocupação muçulmana no século VIII contribuiu pouco para a cultura do vinho, já que o Alcorão proíbe bebidas alcóolicas, entretanto com a reconquista cristã, a produção do vinho voltou a ser estimulada e este tornou-se um dos principais produtos de exportação da Península de Setúbal.
• No século XIX a região conquistou prestígio devido ao Moscatel de Setúbal, diversas personalidades contribuíram para o avanço da indústria do vinho na região, entre elas José Maria da Fonseca que criou em 1850 o mundialmente famoso vinho Periquita, cujas exportações datam de 1881.
OS VINHOS E AS CASTAS
Do total de hectares apto à produção de vinhos certificados, 78% estão cultivados com uvas tintas e 22% com brancas.
BRANCAS
• Moscatel de Setúbal: destaca-se na produção do vinho fortificado. Também é conhecida como Graúdo ou Moscatel da Alexandria, pois apesar de ser originária do Egito, expandiu-se pelo Mediterrâneo através da Alexandria, possivelmente durante o auge do império romano. Diz-se que era a favorita da rainha Cleópatra. Seus vinhos possuem bela coloração dourada e forte expressão aromática, com notas de mel, florais, cítricas, de frutas secas…
• Fernão Pires: também conhecida como Maria Gomes na Bairrada é a branca mais cultivada em Portugal e a segunda mais plantada na região. Aparece em varietais e em cortes.
• Arinto: também é bem representativa, confere frescor aos vinhos devido à sua acidez característica. Encontrada também em varietais e nos cortes.
• Outras brancas cultivadas: Antão Vaz, Verdelho, Chardonnay, Viosinho, Viognier, Síria, Malvasia Fina, Sauvignon Blanc, Alvarinho, Sercial, Rabo de Ovelha, Pinot Blanc, Moscatel Galego Branco, Tamarez, Semillon, Loureiro, Boal Branco e Encruzado.
As ampolas brancas que mais me marcaram no evento foram as abaixo:
- Quinta do Piloto Collection 2017: São varietais ou monocastas como dizem os portugueses! Gostei do Síria, casta pouco conhecida e o mais raro, Moscatel Roxo, vinificado em branco.
- Terras do Pó da Dona Ermelinda: Elaborado com as internacionais Chardonnay e Viognier.
- Brejinho da Costa Alvarinho: Sou fã dos vinhos produzidos no Minho com esta casta e gostei da sua expressão na Península. Mais info sobre os alvarinhos, clique AQUI.
- António Saramago Reserva 2016, Quinta da Invejosa 2016 e Quinta do Piloto 2015 são vinhos de cortes muito interessantes.
TINTAS
• Castelão: é disparada a mais cultivada na região, onde é conhecida como Periquita, devido à sua origem ter sido na propriedade Cova da Periquita, de José Maria da Fonseca, que a plantou na primeira metade do século XIX. Gera vinhos encorpados e intensos.
• Syrah: casta do Rhône que se adaptou bem no sul de Portugal encontrando condições ideais para se expressar.
• Aragonez: é conhecida como Tinta Roriz no Douro e Tempranillo na Espanha.
• Touriga Nacional: famosa casta portuguesa, cultivada em todo o país.
• Moscatel Roxo: uva de cachos pequenos e compactos, possui intensa e complexa expressão aromática, tal qual à branca Moscatel de Setúbal, mas seus vinhos fortificados são produzidos em menor escala, por isso são menos conhecidos.
• Outras tintas cultivadas: Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Alicante Bouschet, Touriga Franca, Merlot, Alfrocheiro, Tinta Barroca, Tinta Miúda, Tannat, Tinto Cão, Petit Verdot, Pinot Noir, Bastardo, Tinta Caiada, Baga e Moreto.
Abaixo as ampolas tintas que mais me agradaram:
- Casa Ermelinda Syrah 216: foi o varietal que mais gostei.
- O Vinha dos Pardais 2014: tem uma história curiosa, me foi dito que os pardais da propriedade fazem a seleção das uvas!!!
- Brejinho da Costa Unoaked Tinto: sem passagem por madeira, estágio em ânforas de barro.
- Entre os cortes merecem destaque o António Saramago Reserva 2010 e o Quinta da Invejosa Vinhas Velhas 2015 produzido pela Filipe Palhoça.
A região pode ser facilmente visitada tomando como base Lisboa que fica cerca de 45 minutos. Recomendo pesquisar a Rota de Vinhos da Península de Setúbal que contém várias informações.
Outros posts no blog sobre produtores da Península de Setúbal:
- Uma agradável tarde na Quinta do Piloto!
- Quinta da Bacalhôa: um imperdível passeio na Península de Setúbal
2 Comments
Entre na discussão.
Boa tarde
“Quinta da Invejosa 2016”
“Quinta da Invejosa Vinhas Velhas 2015” produzido pela Filipe Palhoça.
Ambos medalhados em Bruxelas…do melhor que se faz aqui em Portugal.
Irmãos do Brasil vão poder apreciar também estes néctares dos Deuses.
Abraço daqui de Portugal
Isso mesmo, caro Fernando, xará! Obrigado pelo comentário. Abraço.