Paço dos Cunhas: Visitação com super degustação de vinhos do Dão

O Paço dos Cunhas é uma bela construção do início do século XVII que fica localizado a apenas 16 km de Viseu na maravilhosa região do Dão. Pertence ao grupo Global Wines Portugal, verdadeira potência do Dão, que produz desde vinhos em alta escala como os da linha Cabriz, até tesouros em volumes muito menores, como, por exemplo, os da Vinha do Contador (Paço dos Cunhas) e os da Vinha dos Amores (Casa de Santar). A propriedade é uma verdadeira joia do enoturismo que merece ser visitada, de preferência combinando com um almoço ou jantar no seu restaurante. E para nossa felicidade, a experiência ficou ainda melhor com a completa e top degustação conduzida pelo querido amigo Osvaldo Amado, enólogo diretor do grupo.
Inicialmente visitamos a propriedade, as instalações e os vinhedos do Paço dos Cunhas e da Casa de Santar:
- O Paço dos Cunhas foi adquirido pela Global Wines em 2002 que iniciou sua revitalização, restaurou vinhas velhas e plantou novas. Possui 27 hectares de videiras conduzidas organicamente desde 2007, entre estes a conceituada Vinha do Contador, que corresponde a 7 hectares
- Adegas da Casa de Santar fica bem pertinho, cerca de 500m do Paço dos Cunhas. Fundada no final do século XVIII, é uma das mais tradicionais vinícolas da região, possui o maior terreno contínuo do Dão, com 103 hectares, onde estão plantadas 83 de variedades de uvas tintas e 20 de variedades brancas. A parcela mais conhecida é a Vinha dos Amores, encosta com excelentes condições de solo e exposição solar, na qual são cultivadas suas melhores uvas encruzado e touriga nacional. A Vinha dos Amores ganhou esse nome porque em tempos remotos era ponto de encontro dos casais da vila de Santar. Visitamos a sala de envelhecimento onde os vinhos descansam em barricas de carvalho e a adega na qual se encontram as colheitas mais antigas da casa.



A INESQUECÍVEL DEGUSTAÇÃO
Osvaldo Amado selecionou uma amostra expressiva do seu portfólio. Foram 26 vinhos de diferentes gamas, incluindo não só vinhos do Dão (Cabriz, Casa de Santar e Vinha do Contador), mas também da Bairrada (Quinta do Encontro). Estávamos muito bem conduzidos, pois além de extremamente gentil, Amado é um dos grandes nomes da enologia no país. Foi considerado por duas vezes o enólogo do ano em Portugal. Atualmente é responsável por centenas de rótulos e possui mais de 30 vindimas de experiência, tendo possivelmente já produzido mais de 500 milhões de ampolas em diversas regiões de Portugal, na Espanha, na Itália, na África do Sul e no Brasil (Rio Sol).
QUINTA DE CABRIZ
A Quinta de Cabriz é velha conhecida dos brasileiros e muito presente em nosso mercado. É a marca líder do grupo e da região, sendo a mais vendida do Dão no mundo. Está presente não só aqui no Brasil mas em diversos países (EUA, Inglaterra, Alemanha…). Seus vinhos são perfeitos para o dia-a-dia, possuindo qualidade e capacidade para acompanhar uma boa refeição. Não é à toa que em 2011 e em 2016, o Cabriz Colheita Selecionada Tinto figurou no Top 100 anual da revista Wine Spectator, tendo sido incluído também na indicação de Robert Parker como um dos melhores value wines de 2017. A linha possui brancos, tintos, rosés e espumantes, que em Portugal se posicionam, dependendo do rótulo, na faixa dos 4-8 euros.

- Cabriz Colheita Selecionada 2017. Vinho ligeiro com muito frescor. Composto por 50% encruzado; 30% bical; 10% malvasia-fina e 10% cerceal-branco. Sem passagem por madeira.
- Cabriz Reserva 2018. 100% encruzado. Fermentou em barricas novas de carvalho.
- Cabriz Touriga Nacional 2018. Interessante vinho elaborado com a casta tinta TN que foi vinificada em branco, ou seja, sem contato com a casca. Notas florais além de frutas vermelhas. Ainda não havia provado e gostei de conhecer.
- Cabriz Colheita Selecionada Rosé 2018. Corte de 50% touriga nacional e 50% alfrocheiro. Bom frescor, coloração rosa pálida e notas de frutas vermelhas discretas.

- Cabriz Colheita Selecionada 2017. Corte composto por 40% alfrocheiro; 40% aragonês e 20% touriga nacional. Passa 6 meses em barricas de carvalho. Sua produção anual é de 2,5 milhões de garrafas. É o vinho que citei por ter figurado nas listas Top 100 da Wine Spectator e na Good Values de Parker. Em Portugal, custa em torno de 4 euros.
- Cabriz Biológico. Na Europa, o termo biológico refere-se à cultura orgânica, assim é produzido da forma mais natural possível, com o mínimo de intervenção humana. Corte composto por 50% touriga nacional e 50% aragonês. Não passa por madeira, ficando 18 meses em tanque de inox para depois descansar no minimo por 3 meses em garrafa. Produção anual foi de 50.000 garrafas. Degustei pela primeira vez e gostei da sua proposta.
- Cabriz Escolha 2016. 50% touriga nacional e 50% aragonês. Sem estágio em madeira, passa 18 meses em inox e minimo de 3 meses em garrafa.
- Cabriz Touriga Nacional 2016. Elaborado somente com TN, onde apenas uma parte faz estágio em barricas de carvalho francês. Interessante expressão da casta. Produção é pequena para sua gama: 20.000 garrafas.
- Cabriz Reserva 2015. Corte composto por 40% touriga nacional; 30% alfrocheiro; 30% aragonês. Faz estágio de 9 meses em barricas de carvalho francês.
- Cabriz Edição Especial 2018. Outro da Cabriz que ainda não conhecia. Corte de 50% touriga nacional, 25% alfrocheiro e 25% aragonês. Gostei da proposta, possui médio corpo e estrutura.
CASA DE SANTAR
Gosto muito dos vinhos da Casa de Santar, especialmente os monocastas encruzado e touriga nacional da Vinha dos Amores. Acho que são vinhos com uma excelente relação qualidade x preço.

- Casa de Santar Branco 2018. Corte composto por 40% encruzado; 30% cerceal branco e 30% bical. Frescor bem presente, não passa por madeira.
- Casa de Santar Reserva Branco. Corte composto por 50% encruzado, 30% bical, 20% cerceal branco, onde 50% do vinho fermentou e estagiou 6 meses em barrica de carvalho francês. Possui corpo médio e frescor. É uma boa compra na faixa dos 10 euros, já que normalmente não ultrapassa este valor.
- Casa de Santar Vinhas dos Amores Encruzado 2016. Elaborado somente com a casta encruzado proveniente da Vinha dos Amores. Estagiou 12 meses em barricas novas de carvalho francês, dos quais 3 meses sobre suas borras para depois descansar por mais 6 meses em garrafa. Sou fã deste vinho e obviamente não podia deixar de trazer uma ampola para o Brasil. Possui frescor e corpo. Foram produzidas 9.400 garrafas desta safra.

- Casa de Santar Tinto 2017. Corte composto por 50% aragonês, 30%, touriga nacional e 20% alfrocheiro. Passa 6 meses em barricas de carvalho francês.
- Casa de Santar Reserva Tinto 2014. Corte composto por 50% touriga nacional, 25% alfrocheiro e 25% aragonês. Passa 9 meses em barrica de carvalho francês e depois fica mais 2 meses na garrafa. Clássico do Dão que vale a pena, também é uma ótima compra pela qualidade que oferece, já que em Portugal custa na faixa dos 12-15 euros.
- Casa de Santar Vinha dos Amores Touriga Nacional 2011. Elaborado unicamente com TN da Vinha dos Amores, faz estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês e depois fica 6 meses descansando na garrafa. Apresenta notas de frutas vermelhas maduras. Sem dúvida é um ótimo exemplar da expressão da casta no Dão. Produção de 13.000 garrafas.
- Casa de Santar Nobre 2013. Complexo e encorpado, com taninos firmes, equilibrado e persistente. Um dos grandes vinhos que degustamos naquela tarde. No corte entram as principais castas tintas do Dão: 50% touriga nacional (Vinha dos Amores), 20% alfrocheiro (Vinha do Casal Sancho), 20% aragonês (Vinha do Rachadouro) e 10% jaen (Vinha das Alminhas). O vinho estagiou por 18 meses em carvalho francês, onde 75% eram barricas novas e 25% de 2º uso. Na elaboração, foram selecionadas apenas as melhores 15 barricas num total de 100. Esta safra recebeu 92 pontos RP.
PAÇO DOS CUNHAS (VINHA DO CONTADOR)
A Vinha do Contador é uma parcela muio especial do Paço dos Cunhas e tivemos a oportunidade de degustar seus dois vinhos ícones.
- Paço dos Cunhas Vinha do Contador Branco 2014. Vinho complexo, intenso e persistente. Um dos grandes brancos que degustei em Portugal nesta viagem. Foi mais um que voltou comigo para o Rio. Corte composto por encruzado, malvasia fina e cerceal branco. 50% do vinho fermentou e estagiou em barricas novas de carvalho francês por 12 meses.
- Paço dos Cunhas Vinha do Contador Grande Júri 2011. Vinho ícone da casa. Corte composto por 60% touriga nacional, 20% alfrocheiro e 20% aragonês. Estagiou 18 meses em barricas novas de carvalho francês. Gastronômico, complexo, encorpado e persistente. Está prontíssimo para beber, mostrando para o que veio, mas com grande potencial de guarda.
O nome “Grande Juri” deve-se à arrojada e inédita iniciativa que ocorreu em 2018, na qual esta safra 2011 foi submetida à avaliação de jurados antes de ser apresentada ao público e lançada no mercado. O juri, independente e imparcial, formado por profissionais do vinho de vários países, provou as 3 colheitas anteriores a 2011 que haviam recebido melhor pontuação (2004, 2008 e 2009), para em seguida, anonimamente, conforme os padrões dos certames internacionais, avaliar e pontuar a safra 2011. E somente se a nota média obtida fosse superior a 94 pontos o vinho seria lançado, apresentado e rotulado como “Grande Juri”. Caso contrario, ele seria rotulado sem esta indicação, já que as duas opções de etiquetas haviam sido impressas. O vinho obteve 95,33 pontos de média!

QUINTA DO ENCONTRO
A Quinta do Encontro é o projeto da Global Wines na Bairrada. A vinícola tem uma arquitetura bem moderna representando o formato de um barril de madeira.

Produz tintos, brancos, espumantes e rosés. Eu conhecia apenas um dos seus tintos de entrada de gama e desta vez tive a oportunidade de degustar o espumante rosé e os seus vinhos de alta gama branco e tinto.

- Encontro 1 Branco 2014. 100% arinto. Notas de frutas cítricas, flores brancas, maçãs verdes e toque mineral. 50% do vinho fermenta em carvalho francês.
- Encontro Rosé Bruto. Elaborado 100% com touriga nacional pelo método tradicional. Apresenta uma cor rosada, aromas intensos de frutas vermelhas frescas. Possui corpo e acidez bem marcante.
- Encontro 1 Tinto 2011. Elaborado com as castas baga e touriga nacional. Complexo e encorpado, possui taninos e acidez bem marcantes. Apresenta bom potencial de envelhecimento. Recebeu 94 pts de RP
AGRADÁVEL SURPRESA: Bônus!
- Maria João 2010 Private Collection Tinto 2010. Corte composto por 50% touriga nacional, 20% alfrocheiro, 20% tinta roriz e 10% jaen. Foi uma agradável surpresa, pois não conhecia este interessante vinho e gostei muito. Produzido no Dão, na Quinta do Arcediago, onde foram elaboradas 3.820 garrafas. Redondo na boca, com boa persistência e fruta. A fermentação ocorreu em lagares tradicionais e estagiou por 12 meses em barricas novas de carvalho francês. Também embarcou na TAP comigo para o Brasil.
GRAND FINALE: FORTIFICADO, COLHEITA TARDIA e AGUARDENTE!
- Cabriz Ímpar. Vinho fortificado com adição de aguardente vínica. Corte composto por 40% touriga nacional, 30% tinta roriz, 15% alfrocheiro e 15% jaen. Coloração âmbar com notas de frutas secas, casca de laranja e madeira. Persistente, envelheceu em madeira de 2º uso por 20 anos.
- Outono de Santar Colheita Tardia 2013. Elaborado com 90% encruzado e 10% furmint, foram produzidas 5.200 garrafas deste néctar. Passa 12 meses em barricas de carvalho de 2º uso. Notas de frutas secas e damasco.
- Vinha do Contador Aguardente Velha. Bela coloração âmbar. Elaborado a partir de vinhos criteriosamente escolhidos para a produção deste aguardente. Envelhece por 20 anos em carvalho. Redondo na boca com boa persistência.
RESTAURANTE
Fechamos a tarde com chave de ouro almoçando no restaurante do Paço dos Cunhas que oferece uma “cozinha de autor”. Uma experiência bem legal de pratos da cozinha tradicional portuguesa, reinterpretados pelo Chef Henrique Sampaio Ferreira. E obviamente, harmonizado com os vinhos da casa! O restaurante possui diferentes ambientes e em frente fica a loja de vinhos! Fiz reserva com boa antecedência, o que recomendo.




Conheça o projeto da Global Wines no Brasil através do recente post publicado no blog, clicando AQUI.
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