Rolha: cobrar ou não cobrar, eis a questão! Veja alguns lugares que não cobram!
O tema é dos mais polêmicos e controversos entre os apreciadores de vinho, sommeliers, donos de restaurantes e seus clientes. Provoca calorosas discussões, com bons argumentos de ambos os lados, por isso acho que sempre vale a pena ser analisado com critério. A taxa de rolha é o valor cobrado, pelos bares e restaurantes, dos clientes que trazem suas próprias bebidas, normalmente vinho ou uísque. Para cada garrafa que o estabelecimento abre, ou seja, “saca a rolha”, é cobrado um valor. Daí a origem do seu nome.
A grande maioria dos restaurantes permite que o cliente leve seu próprio vinho para acompanhar os pratos do cardápio e cobra a rolha. A alegação é que o objetivo da taxa é cobrar pelo “serviço do vinho”, que compreende deixar na temperatura correta (caso não tenha chegado nessas condições), fornecer balde de gelo (para espumantes e brancos), servir em taças adequadas e decantar, quando necessário. Sabe-se que todo esse serviço demanda custos, investimentos e treinamento de pessoal, que justificariam a cobrança da taxa de rolha. Até aí, eu posso concordar, desde que seja um valor justo. O problema é quando são cobrados valores extorsivos.
Há estabelecimentos que não cobram a taxa e, obviamente, estes são os que mais me agradam, mas infelizmente a minoria pratica esta simpática estratégia, capaz de cativar e fidelizar o cliente apreciador de vinhos. Já outros restaurantes adotam uma política interessante, na qual isentam a taxa de rolha, se algum vinho da sua carta for consumido. Dessa maneira, um grupo de amigos, ou até mesmo um casal, pode começar com um vinho do restaurante e depois partir para o vinho que tenham levado, pagando apenas a bebida consumida e sendo dispensados da taxa de rolha. Nesse caso, uma boa dica é escolher um espumante da casa para iniciar os trabalhos e depois continuar com o vinho trazido.
Há um consenso de que alguns cuidados devem ser observados por aqueles que desejam aderir à prática de levar seus vinhos a restaurantes. Primeiramente, deve-se ligar para o local e perguntar se ele permite que o cliente leve seu próprio vinho. Em seguida, para evitar surpresas, pergunte se é cobrada a taxa de rolha e em caso positivo, qual o seu valor. Há possibilidade de negociação, mas lembre-se que o particular pode cobrar o quanto quiser, cabendo ao cliente decidir se aceita ou não. Tenha consciência de que a ideia não é passar num supermercado, comprar um vinho barato e levar. Mesmo sabendo que muitos estabelecimentos cobram margens abusivas sobre as bebidas, o propósito não é economizar e sim ter o prazer de apreciar um vinho diferenciado, com a comida do restaurante que lhe agrada. Jamais leve um rótulo que faça parte da carta do estabelecimento e sempre escolha um vinho compatível com o nível da carta e do lugar. Acho válido levar aquele vinho que você guardou para uma ocasião especial, ou que trouxe de uma viagem, etc. Analise se é justificado levar determinado vinho. Nunca apareça com vinhos simples que você bebe no seu dia-a-dia. Outra etiqueta importante é não abusar na quantidade de vinhos levados, principalmente no caso de isenção. Uma garrafa por casal considero adequado. Também é de bom tom oferecer o vinho ao profissional responsável pelo serviço. Fiquem tranquilos, que a quantidade que ele irá provar, se o fizer, será mínima! E por fim, também é justo deixar uma gorjeta a parte para o sommelier, já que, ao não consumir os vinhos da carta, ele deixou de ganhar os 10% relativos ao serviço que seria cobrado sobre o vinho consumido.
A cobrança da taxa de rolha não é exclusiva dos estabelecimentos brasileiros, em inglês ela é chamada de corkage fee. Entretanto, uma prática cada vez mais comum nos bares e restaurantes lá fora é a BYOB (bring your own bottle), sigla criada nos EUA que significa “traga sua própria garrafa”. Na região de Napa e Sonoma Valley na Califórnia, diversos restaurantes não cobram do cliente que leva seu próprio vinho, desde que seja produzido na região. Em grandes cidades dos EUA, alguns estabelecimentos estipulam o dia da semana para BYOB. Na Austrália e Nova Zelândia também não é raro a prática da BYOB.
Na nossa cidade, vale a pena ficar ligado no Rio Rolha Zero que ocorre durante o tradicional Rio Wine & Food Festival, que a cada ano ganha mais força. Normalmente ocorre em agosto/setembro com a participação de diversos estabelecimentos.
Também merece destaque a iniciativa da Mastercard que isenta o portador dos cartões Platinum e Black da cobrança da taxa de rolha nos restaurantes conveniados, desde que a conta seja paga com estes cartões, obviamente . Há diversos restaurantes participantes no Rio, São Paulo, Curitiba e Brasília. Tenho ido ao Tragga no Rio e usufruído da promoção numa boa. No final deste post, relaciono os restaurantes do Rio e SP participantes, mas aconselho sempre ligar antes para o estabelecimento e confirmar.
Outra dica boa é o serviço de grande utilidade pública que meu amigo Oscar Daudt presta ao relacionar em seu site os valores de taxa de rolha cobrados por estabelecimentos no Rio, São Paulo e Brasília. Mesmo não estando atualizados, serve como um bom indicativo. E alíás, já está na hora de uma atualizada, não é Oscar? Abaixo os links para os valores cobrados pelos restaurantes do Rio e SP:
http://www.enoeventos.com.br/201404/rolha/rolha.htm
http://www.enoeventos.com.br/201404/rolhasp/rolhasp.htm
Gosstaria de encerrar com um caso prático para reflexão. Certa vez, num dia de semana, liguei para um restaurante X para indagar a respeito da sua política de taxa de rolha. Disse que éramos um grupo de 8 pessoas, todos apreciadores de vinho, e que gostaríamos de levar umas garrafas. O valor da taxa de rolha que foi passado era absurdo. Ligamos para outro restaurante, o Y, que cobrou uma taxa amiga, que dividida pelos 8 do grupo, não foi nem sentida. De qual restaurante nos tornamos habitués? O X provavelmente ficou com 8 lugares vazios nesta noite. Será que para ele valeu a pena deixar de vender 4 entradas, 8 pratos principais, 4 sobremesas, 8 cafés e diversas águas numa quarta-feira? Não há nenhuma garantia que sentaria outro grupo na mesa e ainda que esta fosse ocupada naquele noite, poderia ser por clientes que só bebessem refrigerante, e não seriam vendidos vinhos da mesma maneira. Acho que mais inteligente foi a postura adotada pelo Y!
E no mais, os requisitos fundamentais para os interessados em incorporar esse hábito são bom senso e educação.
Restaurantes do RIO participantes da promoção do Mastercard mencionada neste post:
Antiquarius
Casa Momus
Cipriani
Corrientes 348
Don Pascual,
Esch Café
Espaço Don
Fasano Al Mare
Gero Barra
Gero Ipanema
L´Etoile
Margutta Ipanema
MEE
Miam Miam
Oui Oui
P.F.Chang´s
Pérgula
Quadrucci
Riso Bistrô
Roberta Sudbrack
Rubaiyat Rio
Serafina
Tem Kai
Tragga
Restaurantes de SP participantes da promoção do Mastercard mencionada neste post:
A casa do Porco
A Figueira Rubaiyat
Antiquarius
Attimo
Bistrô Charlô
Bossa
Café Journal
Casa de Gralhados
Clos
Corrientes 348
Fleming’s
Italy
KAÁ
L´Amité
Le Bife
Le Bilbouquet
Maní
Marcel Restaurant
Ninno Cucina e Vinho
Ovo e Uva
P.F.Chang´s
Pizzaria Speranza
Quattrino
Restauantes do Grupo Fasano
Rubaiyat São Paulo
Ruella
SAJ
Serafina
Taberna da Esquina
Templo da Carne
Terraço Itália
Tony Roma’s
TUJU
Vinheria Percussi
Este tema é uma atualização do que escrevi na coluna Boas Taças publicada no Jornal Carioca O Sol em 21/08/2015.
Saiba mais sobre o tema lendo o post:
3 Comments
Entre na discussão.
Mestre Fernando,
esta atualização do sempre interessante tema “Taxa de Rolha” ficou ótima. Agora vou passar a prestar atenção nos BYOB’s quando for viajar para as terras do Tio Sam!
Congratulações pelo blog que para mim passou a ser de passagem obrigatória há tempos!
Grande Angelo
Muito Obrigado! Que bom que vc gostou do post! Fico feliz. Passe sempre por aqui! Abs.
Olá, Fernando
Você e seus leitores são muito bem-vindos na Vinheria!
Até lá e um abraço 🙂