A outra Cabernet!
Apesar de ser uma das minhas cepas favoritas, ela realmente não goza da popularidade da cabernet sauvignon, sua parente famosa e por isso muitos não reconhecem seu valor, considerando-a uma casta complementar, uma eterna coadjuvante. Grande injustiça! A cabernet franc possui méritos próprios e cada vez mais tem conquistado seu espaço, provando que também é capaz de brilhar e produzir excelentes vinhos. Não é por acaso, que já foi até matéria de capa da Decanter, prestigiada publicação inglesa.
Os vinhos produzidos com a cabernet franc possuem boa estrutura, são elegantes e macios. São menos encorpados e mais leves em taninos do que os obtidos a partir de sua “irmã”. Na verdade, o parentesco mais correto seria “filha”, já que estudos de DNA confirmam que a cabernet sauvignon seria resultado do cruzamento da cabernet franc com a sauvignon blanc. Aliás, conforme pesuisas temos que a cabernet franc seria a “mãe” de diversas outras castas, como por exemplo a merlot e a carménère. Confira na imagem abaixo criada Wine Folly:
EUROPA
Deixando de lado questões familiares, a cabernet franc é originária da França, sendo lá muito plantada. É a uva tinta do vale do Loire, onde é utilizada sozinha na produção de vinhos rosés e tintos de corpo ligeiro a médio, com destaque para os de Chinon. Considerando que o Loire é a terra dos vinhos brancos, pode-se dizer que é em Bordeaux que a cabernet franc mostra seu potencial, gerando vinhos mais encorpados e estruturados. Junto com a cabernet sauvignon e a merlot, compõem o corte bordolês clássico. Em Bordeaux, diferentemente do Loire, ela é utilizada na forma de cortes, brilha nos solos argilosos da margem direita do rio Gironde e é a casta predominante na composição do mítico e cultuado Cheval Blanc.
No mundo todo são produzidos vinhos que contêm a cabernet franc em cortes com outras cepas, mas há uma tendência crescente de utilizá-la como varietal. Recentemente visitei o Leste Europeu e bebi fantásticos vinhos, principalmente na Hungria, nos quais a cabernet franc figurava sozinha, ou em cortes com uvas nativas.
Acima duas ampolas húngaras. O 1º é o Barbár, um fantásico corte com 37% cabernet franc, 28% merlot, 18% tannat e 17% kékfrankos. O 2º é um varietal 100% cabernet franc da linha de entrada da vinícola Takler.
AMÉRICA DO NORTE – CANADÁ e EUA
A Cabernet Franc também é muito utilizada na fabricação de Icewines no Canadá, além de aparecer em diversos países em outros vinhos de sobremesa, os de colheita tardia. Ainda na América do Note, precisamente na Califórnia degustei ótimos varietais de cabernet franc tanto em Sonoma quanto em Napa:
AMÉRICA DO SUL – ARGENTINA, CHILE e URUGUAI
Na América do Sul, diversos produtores exploram muito bem a Cabernet Franc em seus cortes, entretanto nos últimos anos a Argentina e o Chile têm produzido varietais de Cabernet Franc dignos de respeito. Esta cepa despertou a atenção de vários produtores de Mendoza, sendo considerada por muitos a queridinha do momento. Os varietais e cortes com predominância desta uva impressionam pela sua qualidade e elegância, sendo uma opção diferente dos suculentos malbecs. Também merecem destaque o Cabernet Franc produzido na Patagônia. Entre os argentinos, gosto do Angelica Zapata, Las Perdices Ala Colorada, El Enemigo, Gran Enemigo e dos patagônico Miras. Recentemente fui numa degustação da vinícola de boutique Krasia May e vi que seu cabernet franc promete.
Abaixo uma degustação horizontal da safra 2014 de Gran Enemigo de diferentes vinhedos: Agrelo, Chaycaes e Guatallary. Todos com com predominância de cabernet franc.
A Viña Cobos lançou um cabernet franc bastante bom:
No Chile, são produzidos bons vinhos com a cabernet franc em diversas regiões. Tive ótimas experiências com as ampolas abaixo do Vale do Colchagua (Laura Hartwig) e Vale do Maipo (Perez Cruz):
A plantação de cabernet franc ainda é tímida no Uruguai (7% do total de tintas), mas há alguns exemplares de cabernet franc bem interessantes, como o Gran Ombú da Bracco Bosca, eleito o melhor cabernet franc do país seguidas vezes pelo guia Descorchados e sempre se destacando e mantendo sua qualidade.
BRASIL
No Brasil, a cabernet franc já foi muito mais plantada, mas os seus vinhedos nas últimas décadas, perderam espaço para a cabernet sauvignon e a merlot. Entretanto, também temos ótimos exemplares desta casta, entre eles o Valmarino Cabernet Franc Ano XX ( O CF ano XVIII foi premiado como o melhor vinho tinto nacional na edição de 2015 da Expovinis) e o excepcional Cabernet Franc Churchill, parceria da mesma vinícola com o americano Nathan Churchill. A Casa Valduga possui expertise de longa data com esta cepa e atualmente produz o interessante Premium Raízes Cabernet Franc.
Abaixo uma degustação vertical que fiz de Churchill safras 2008, 2011 e 2012:
Assim, proponho abrir uma boa ampola de cabernet franc, para depois me dizer se ela não tem lá seus encantos.
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Curiosidade: Este post foi uma adaptação e atualização da Coluna Boas Taças publicada na edição de 13/11/2015 do jornal carioca O Sol. A lembrança curiosa é que no jornal a coluna saiu com uma foto horrível de uma uva que nem vitis vinifera era! A foto desta maravilhosa uva que originalmente deveria ter saído ilustrando a matéria foi substituída por outra foto por um lapso do estagiário! O meu editor providenciou a promoção do estagiário responsável: virou o correspondente do jornal na Síria! Rsrsrsrs. Se fosse hoje, ficaria pelo centro do Rio mesmo, é mais perigoso!!!!
4 Comments
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Oi, Fernando :
Pulenta e Melipal tbm são francs mendocinos q. encantam!
Oi Carla! Sim, tem razão. Gosto do CF da Pulenta, mas desta vez não tive oportunidade de bebê-lo. Quanto ao Melipal, infelizmente ainda não cruzou meu caminho, rsrsrs. Mas sua dica já está devidamente anotada. Obrigado. Bjs.
Olá, amigo Fernando. Excelentes matérias, agora podemos ver todas em seu blog. Abraço do Sommelier JP
Obrigado Joāo! Espero que goste. Abs.