Campanha Gaúcha: a mais nova Indicação Geográfica de Vinhos do Brasil!

Desde o final de maio deste ano, após intenso e árduo trabalho, o Brasil conta com mais uma Indicação Geográfica (IG) de Vinhos na modalidade Indicação de Procedência (IP), a Campanha Gaúcha.

Tá certo, que legal! Muito maneiro! Mas o que significa isso???? O que é IG? IP? Há outras no Brasil? Quais? Onde?
Calma! No mapa acima já visualizamos onde fica a Campanha Gaúcha, mas antes de conhecê-la, é importante saber que, resumidamente, no caso de vinhos no Brasil, temos que:
- As Indicações Geográficas (IG) identificam vinhos originários de uma área geográfica delimitada quando determinada qualidade, reputação ou outra característica são essencialmente atribuídas a essa origem geográfica.
- No Brasil, existem 2 modalidades de Indicações Geográficas (IG): a Indicação de Procedência (IP) e a Denominação de Origem (DO);
- IP se aplica às regiões que se tornaram reconhecidas na produção de vinhos, ou seja, obtiveram reputação; e
- DO vai além da IP, pois se aplica também a uma área geográfica delimitada, mas os vinhos devem comprovadamente apresentar qualidades ou características que se devem essencialmente ao meio geográfico, incluídos os fatores naturais e os fatores humanos, ou seja, o vinho com a marca do lugar, sua singularidade, sua peculiaridade. O vinho apresentará características que só existem ali e portanto só ficam impressas no vinho lá elaborado com as uvas também cultivadas na região;
- No Brasil o registro de Indicação Geográfica deve ser requerido junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), com base na Lei da Propriedade Industrial brasileira e outras normativas legais. O processo passa por longa e criteriosa análise até seu deferimento;
- Atualmente o Brasil possuí 7 IG de Vinhos: DO Vale dos Vinhedos (RS), IP Vale da Uva Goethe (SC), IP Pinto Bandeira (RS), IP Monte Belo (RS), IP Altos Montes (RS), IP Farroupilha (RS) e a novíssima IP Campanha Gaúcha (RS);
- Há mais 3 processos de criação de IG ainda em fase de estruturação: Vinhos de Altitude de Santa Catarina, Vale do São Francisco (PE/BA) e Altos de Pinto Bandeira (RS), sendo este último somente para espumantes; e
- No Brasil, cada IG está vinculada a uma associação de produtores que atua na gestão da mesma, incluindo o controle, a proteção e sua promoção.
OBSERVAÇÃO: APÓS A PUBLICAÇÃO DESTE POST, FORAM CRIADAS AS:
- IP VINHOS DE ALTITUDE DE SC. Clique AQUI para ver post específico;
- IP VINHOS DE BITURANA (PR); e
- DO ALTOS MONTES DE PINTO BANDEIRA (RS). Clique AQUI para ver post específico

No Velho Mundo o conceito de indicação geográfica é muito forte, além de criar vínculo com o consumidor norteando suas escolhas pessoais no momento da compra, a criação de uma IG (DO/IP) traz como benefícios a organização coletiva dos produtores, o estímulo à economia local e o fortalecimento do nome dos produtos da região, com impactos determinantes na competitividade e com reflexo significativo na atividade do enoturismo.
Só para lembrar, na Europa encontramos as designações abaixo:
DOP (Denominação de Origem Protegida):
IGP (Indicação Geográfica Protegida):
Agora, finalmente, vamos a nossa criança!
IP CAMPANHA GAÚCHA

- A área geográfica delimitada totaliza 44.365 km2, entre os paralelos 29º e 32º Sul. A área da IP Campanha Gaúcha abrange 14 municípios da região: Aceguá, Alegrete, Bagé, Barra do Quaraí, Candiota, Dom Pedrito, Hulha Negra, Itaqui, Lavras do Sul, Maçambará, Quaraí, Rosário do Sul, Santana do Livramento e Uruguaiana. Para ter uma noção das enormes distâncias existentes na região, veja o mapa abaixo:
- Para a elaboração dos vinhos 100% das uvas devem ser produzidas na área delimitada;
- Os vinhedos são cultivados em espaldeiras, existindo limites de produtividade e padrões de maturação das uvas para aumentar a qualidade dos produtos;
- Para a elaboração dos vinhos, são autorizadas 36 castas, todas elas de vitis vinífera, conforme extraído diretamente do documento protocolizado no INPI:
- Os produtos autorizados na IP são os vinhos finos tranquilos (brancos, rosados e tintos) e os espumantes naturais;
- Os vinhos varietais são elaborados com no mínimo 85% da respectiva variedade indicada no vinho varietal;
- Os vinhos com indicação de safra têm em sua composição no mínimo 85% da respectiva safra mencionada;
- Os vinhos devem atender a padrões analíticos específicos da IP associados à qualidade e devem ser aprovados em avaliação sensorial realizada às cegas por comissão de degustação;
- Para poder utilizar o signo distintivo da IP, os vinhos devem ser produzidos de acordo com o Regulamento de Uso e devem passar pelos controles que estão sob a gestão do Conselho Regulador da IP, para receber a atestação de conformidade dos produtos; e
- Os vinhos chegam ao mercado consumidor com a identificação do nome geográfico – Campanha Gaúcha, mais o qualificativo – Indicação de Procedência.
VINHOS DA CAMPANHA GAÚCHA
A seguir, algumas das boas e memoráveis ampolas da Campanha que já tive o prazer de degustar. Alguns destes vinhos, acompanho há algumas safras.
MIOLO (Quinta do Seival e Quinta Almadén)
O Grupo Miolo há bastante tempo marca presença na Campanha com produção consistente de vinhos de qualidade. À frente do projeto encontra-se o talentoso enólogo português Miguel Almeida. Talvez, não por acaso, na Quinta do Seival em Candiota, merecem atenção os resultados obtidos nos vinhos que utilizam castas portuguesas: touriga nacional, tinta roriz (tempranillo) e alvarinho. Gosto ainda do cabernet sauvignon que lá é produzido. A Miolo também possui a Vinícola Almadén em Santana do Livramento onde está reformulando seus rótulos e resgatando vinhas velhas.
A Miolo desenvolveu o projeto Single Vineyard, no qual 3 dos 4 rótulos iniciais da linha são produzidos na Campanha, com destaque para o surpreendente e premiado Touriga Nacional:
Posteriormente, em 2021, a linha Single Vineyard foi expandida com inclusão de mais dois rótulos também de uvas da Campanha: Alvarinho e Cabernet Franc.

Na Campanha é produzido também o ícone Sesmarias, que mostrou seu alto potencial, ainda sem estar pronto, numa degustação horizontal da safra 2018 que participei na ViniBraExpo 2019. O Sesmarias é fermentado integralmente em barricas de carvalho e elaborado com as uvas cabernet sauvignon, merlot, petit verdot, tannat, tempranillo e touriga nacional. Faz estágio de 18 meses em carvalho francês.

E vale lembrar que o premiado Rosé Seleção da Miolo, que possui ótima relação custo x benefício, é produzido na Campanha. Foi eleito o melhor rosé do Brasil na última edição da Grande Prova Vinhos do Brasil, organizada pelo especialista Marcelo Copello.
GUATAMBU
Fica em Dom Pedrito e possui estrutura de enoturismo. Gosto dos seus espumantes e do Rastros do Pampa Tannat que acompanho desde a safra 2013, sendo que o vinho da safra 2018 foi eleito o melhor vinho tinto do Brasil pelo Descorchados 2019.
DUNAMIS
Também localizada em Dom Pedrito e já foi comentada em post exclusivo aqui no blog, quando visitei seu fantástico Show Room/Wine Bar em Gramado (para lembrar clique AQUI). A Dunamis produz vinhos descomplicados que agradam. Além dos espumantes, gosto do tannat e dos merlots, pois além do tinto, também elaboram um interessante e curioso merlot vinificado em branco.
ROUTHIER E DARRICARRÈRE
Desde que Duda Zagari me apresentou estes vinhos pela 1ª vez na saudosa Confraria Carioca, gostei do chardonnay Província de São Pedro e do despretensioso e descontraído ReD, corte de cabernet sauvignon com merlot, aquele da Kombi vermelha no rótulo.
BODEGA SOSSEGO
Os associados da ABS-Rio tiveram a oportunidade de conhecer alguns dos seus rótulos em uma excelente degustação de vinhos da Campanha conduzida pela especialista Marcela Lopes da MWine. O espumante rosé possui cabernet sauvignon no seu corte.
SALTON
Também possui vinhedos na Campanha e elabora vinhos de alta qualidade, entre eles:
- Septimum 2018. Vinho elaborado com 7 variedades de uvas combinadas num corte único: marselan, merlot, cabernet sauvignon, tannat, alicante bouschet, arinarnoa e cabernet Franc. A fermentação ocorre em barricas de carvalho francês até seu amadurecimento, por 12 meses.
- Gerações Mário Salton. Tinto de guarda, elaborado com 34% de tannat, 31% de marselan, 25% de merlot e 10% de cabernet sauvignon. Passo por período de 24 meses de amadurecimento em barricas de carvalho francês e americano.

OUTROS PRODUTORES
Abaixo alguns rótulos produzidos na Campanha Gaúcha. Gosto dos espumantes elaborados pela Campos de Cima em Itaqui e guardo ótimas recordações do seu Brut, que conheci há exatos 10 anos, após ele surpreender na EXPOVINIS em São Paulo na ocasião. Observem que a linha Raízes da Casa Valduga é elaborada na Campanha Gaúcha. Abaixo, 2 rótulos de varietais desta linha, sendo que há também o Gran Corte Raízes que ainda não tive oportunidade de conhecer.

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2 Comments
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Parabéns pela postagem Fernando!! Muito completa e explicando em detalhes a questão da IG (IP e DOC), nossas IPs e DO, outras pelo mundo com suas siglas e material detalhado sobre a IP Campanha Gaúcha).
Caro Túlio, muito obrigado pelos comentários. Fico feliz que tenha gostado. Grande abraço.