Lançamento do Guia Descorchados 2019 no Rio

Na semana passada ocorreu no Rio de Janeiro o lançamento do Descorchados 2019. O evento foi bem descontraído, realizado em agradável espaço aberto num clima festivo com direito à música ao vivo, degustação de ótimos vinhos e um exemplar do guia para cada participante.

O Descorchados é um guia especializado em vinhos sul-americanos e uma verdadeira referência! Existe há 20 anos e começou só com vinhos do Chile. Rapidamente agregou os argentinos e posteriormente Uruguai e Brasil. Nosso país entrou inicialmente só com espumantes e depois veio com os vinhos tranquilos tintos e brancos.

No Descorchados os produtores são organizados por país e apresentados em ordem alfabética, com seus vinhos comentados por ordem decrescente de pontuação, cuja nota máxima que pode ser atingida é 100 pontos.
A edição de 2019 é a 21ª e nela foram avaliados mais de 3.000 vinhos de mais de 150 vinícolas argentinas, 190 chilenas, 30 uruguaias e 40 brasileiras. São mais de mil páginas abordando cada país e suas regiões produtoras com informações de cada vinícola, além é claro das notas e comentários dos vinhos. O chileno Patricio Tapia é o idealizador e organizador do guia.
DESCORCHADOS 2019 RIO DE JANEIRO
No mesmo formato do ano passado o evento de lançamento carioca é uma versão mais “pocket” da paulista que ocorreu dois dias antes. No Rio estavam representados 24 produtores que correspondiam a cerca de 1/3 dos presentes em São Paulo. Entretanto vieram nomes de peso e, principalmente, vinhos maravilhosos! Confira abaixo os presentes no Rio:

Havia uma série de ótimos vinhos! Vou destacar dentre os que degustei aqueles que achei mais interessantes, diferentes ou que de alguma maneira me surpreenderam, sem levar em consideração pontuação ou premiação no guia e, principalmente, sem desmerecer os demais.
ESPUMANTES
As borbulhas, sem dúvida, são a nossa praia e nesta categoria o Brasil como sempre dominou! E só tinha coisa boa!
Fiquei feliz de ver os espumantes Estrelas do Brasil no Descorchados 2019, pois são realmente especiais e dificilmente pintam por aqui no Rio. Acompanho estes vinhos há tempos, já tendo inclusive estado por lá (saiba mais clicando AQUI).

- Brut Rosé. Elaborado pelo método tradicional com 100% pinot noir, recebeu 91 pontos.
- Trebbiano. Extremamente aromático, apesar do rótulo informar método tradicional, na verdade só há uma fermentação que ocorre dentro da garrafa. Um método ancestral de produzir espumante. Recebeu 91pontos.
A Miolo estava presente com quase todo o seu portifólio, levando seus melhores vinhos. Dentre os espumantes, já gostava do Millésime Brut e me surpreendi com o lançamento da sua versão rosé.


- Millésime Brut Rosé 2017. Elaborado pelo método tradicional com 100% pinot noir é lançamento da Miolo e figurou entre os melhores vinhos do ano na categoria revelação, recebendo 91 pontos. Autólise de 18 meses. Comporá a linha Millésime de espumantes safrados da vinícola juntamente com seu par branco.
- Millésime Brut 2015. Elaborado, somente em grande safras, pelo método tradicional, é o grande espumante da casa. Corte de pinot noir com chardonnay, recebeu 91 pontos. Fica também 18 meses em contato com suas leveduras.
A Casa Valduga também levou diversos dos seus vinhos destacando-se o espumante Sur Lie 30 Meses Nature, o grande premiado pelo Descorchados. O consagrado e já clássico 130 gerou interessantes “derivados” (ou spin-off como nas séries de TV): o blanc de blanc e o blanc de noir.

- Sur Lie 30 Meses Nature. Como o nome entrega passou 30 meses em contato com suas leveduras, não foi filtrado e 10% do seu vinho base fez estágio em carvalho. É um vinho complexo que ainda pode evoluir na garrafa. Com 94 pontos, foi eleito o melhor espumante do Brasil nesta edição do guia.
- 130 Special Edition Blanc de Blanc. 100% chardonnay fiou 36 meses em contato com suas leveduras. Recebeu 91 pontos.
- 130 Special Edition Blanc de Noir. 100% pinot noir, também passa 36 meses com suas leveduras. Levou 90 pontos.
BRANCOS
Infelizmente não pude me dedicar aos brancos como gostaria, deixando de lhes dar a atenção merecida. Degustei menos de 20, tentando fugir das castas habituais e esperadas, como os maravilhosos sauvignon blancs chilenos, por exemplo, e investindo em novidades, como os dois abaixo que me surpreenderam pela qualidade e originalidade:

- Granito Semillon 2017 da J. Bouchon. Delicioso branco chileno que fica guardado por 1 ano em barricas usadas. Recebeu 95 pontos e foi eleito o branco revelação e o melhor semillion do Chile, cepa que vem ganhado força no país.
- 360º Series 2017. Branco elaborado pela vinícola chilena Luis Felipe Edwards com a famosa dupla do Rhône roussanne (90%) e marsanne (10%). Possui maravilhoso frescor e recebeu 92 pontos.
E para não deixar na mão os mais conservadores, aqueles que não passam sem um bom chardonnay, seguramente estes não ficarão decepcionados com o chileno Arboleda Chardonnay 2017. A vinícola é um projeto do produtor Eduardo Chadwick que têm como enólogo o consagrado Francisco Beettig, ou seja, leia-se Seña, Viña Chadwick e Errázuriz (veja post deles clicando AQUI). A Arboleda possui uma única linha, de média gama, que sempre mantém um padrão de qualidade muito bom. O chardonnay abaixo recebeu 92 pontos.

TINTOS
Quem nunca se deliciou com um bom malbec que atire a primeira pedra! Mesmo não havendo muitos, ela estava bem representada não só pelos argentinos, os grandes experts, mas por vinhos chilenos de boa qualidade (clique AQUI e veja post específico sobre a malbec pelo mundo). Gostei dos abaixo:

- Alto das Hormigas Malbec 2016. Interessante vinho elaborado no Vale do Uco, com estágio de 18 meses em tanques de concreto para 75% do vinho e os 25% restantes ficam em madeira para depois repousarem juntos por 6 meses na garrafa Avaliado com 93 pontos.
- Atamisque Malbec 2016. Excelente argentino, produzido no Vale do Uco, que faz estágio de 14 meses em barricas novas de carvalho francês. Recebeu 95 pontos.
- Luis Felipe Edwards Gran Reserva Malbec 2017. Este foi o representante chileno da casta que mais gostei. Os vizinhos dos argentinos estão há tempos flertando com a malbec e dando bons resultados. Levou 92 pontos.
E falando em malbec chileno, a casta faz parte da composição do vinho que recebeu 98 pontos do Descorchados 2019 e foi eleito o melhor vinho tinto do Chile, dividindo o título, por empate, simplesmente com o consagrado cabernet sauvignon da Viña Chadwick. O responsável por esta proeza foi o Old Vine Series Las Cruces 2016 elaborado pela De Martino composto por 2/3 de malbec e 1/3 de carménère. As castas ícones de cada um dos países hermanos em perfeito equilíbrio e harmonia.

A VIK era uma das paradas obrigatórias da noite. Produz apenas 3 vinhos, todos excelentes e disponíveis para degustação no evento.

- VIK 2013. Ícone da casa, comparável a um grande Bordeaux. É complexo e composto por cabernet Sauvignon (67%), carménère (14%), cabernet franc (17%) e merlot (2%). Estagiou 24 meses em barricas de carvalho. Recebeu 95 pontos e figurou entre os tintos revelação do Chile segundo o Descorchados 2019.
- Milla Cala 2014. É mais frutado e menos encorpado que o VIK, porém também complexo. Corte composto por cabernet Sauvignon (68%), merlot (15%), carménère (9%), syrah (5%) e cabernet franc (3%). Estagiou 24 meses em barricas de carvalho. Recebeu 92 pontos
- La Piu Belle 2012. Delicioso corte composto por cabernet Sauvignon (50%), carménère (35%), cabernet franc (6%), merlot (5%) e syrah (4%). Passa 24 meses em barrica de carvalho. A bela garrafa representa a deusa de Millahue e foi especialmente pintada pelo artista Gonzalo Cienfuegos. Não foi avaliado pelo guia.
Abaixo mais alguns tintos que me surpreenderam:

No sentido horário:
- Sucesor El Romano 2017 da Casa Donoso. É a segunda safra que sai este vinho, a primeira foi em 2015, que recebeu 92 pontos do Descorchados e continha carignan e a pouco conhecida e rara cesar noir, uva ancestral cultivada no norte da Borgonha pelos romanos. Na safra 2017 a composição ficou 10% carménère e 90% cesar noir. Havia ainda um versão rosé do Sucesor Romano também bastante interessante.
- Doña Bernarda 2014 da Luis Felipe Edwards. É o topo de gama da vinícola, complexo e encorpado. Composto por 60% cabernet sauvignon, 23% carménère e 17% syrah. Obteve 94 pontos.
- Carignan VIGNO 2018 da Bouchon. Ótimo exemplar do VIGNO (Vingadores de Carignan) que é uma inciativa formada por dezenas de produtores com o objetivo de revitalizar e valorizar os vinhedos antigos de carignan, estabelecendo alguns preceitos que devem ser observados na produção e cultivo. Avaliado com 94 pontos.
- 1810 safra 2017 da Casa Donoso. Corte composto por 50% cabernet sauvignon e 50% carménère. Vinho descomplicado e fácil de agradar. Obteve 91 pontos.
- Don Maximiano Founder´s Reserve 2016 da Errazuriz. Um dos grandes vinhos do Chile. Saiba mais AQUI.
- Cabernet Franc Limited Edition 2017 da Pérez Cruz. Sou fã da CF e este vinho me agradou bastante pelo seu equilíbrio e elegância. Saiba mais sobre esta cepa AQUI. Obteve 93 pontos.
- Orzada Cabernet Sauvignon 2017 da Odfjell. Para os que não passam sem um cab, este foi um dos bons que degustei por lá. Orgânico, passa 10 meses em barricas de carvalho. Recebeu 93 pontos.
E para fechar a noite, gostei de ter degustado o Rastros do Pampa Tannat 2018 que já há algum tempo não passava pela minha taça e está cada vez melhor. É produzido pela Guatambu que fica localizada na Campanha Gaúcha, próximo a fronteira com o Uruguai. Obteve 93 pontos e foi eleito o melhor tinto do Brasil pelo Descorchados 2019.

E segue a América do Sul mostrando sua força!
2 Comments
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Ei Fernando! Maravilhoso o post! Dá uma ótima ideia do que é o evento e de quebra muitas dicas legais sobre vinhos.
Obrigado. Fico feliz que tenha gostado!